6.12.05

O MÉTODO ENERGÉTICO (1ª PARTE)


Depois do método do kata, eis então segundo método de treino, o método energético. Como sempre, todos estes textos estão disponíveis em www.tokitsu.com mesmo aqui ao lado, na zona dos links.

Este método traça um caminho quase inverso ao primeiro e visa desde o início reforçar o que veicula o princípio da eficácia: o ki. Diria que este método tenta reorganizar o sistema sensorial para que o corpo funcione com uma melhor regulação energética. Se o primeiro se apoia sobre as formas técnicas elaboradas até à perfeição, este apoia-se directamente sobre o sistema sensorial inerente às técnicas gestuais da mais alta eficácia.
Eis porque, segundo este método, a técnica deve aparecer espontaneamente a partir da sensação de ki. Ele não se apoia na aprendizagem específica das técnicas como o método do kata. Se houver uma elaboração técnica, ela virá depois de se ter dominado suficientemente o princípio da eficácia, que o mesmo é dizer, o ki. (...)
N(a arte d)o sabre, mesmo para um método que situa no lado oposto ao método do kata e visa a formação directa no combate pela aquisição de um elemento mental e energético essencial, há um minímo de mestria técnica que é obrigatória para saber utilizar a lãmina.
O método de Hirayama Gyozo (1759-1828) é um bom exemplo disso e a aprendizagem técnica era aí limitada ao mínimo. O seu método consistia numa só técnica. Um exercício a dois, onde se ataca com um shinai longo um adversário munido de protecções e um shinai curto de 40 cm. Este último deve atacar para desferir um golpe no abdómen do primeiro, com o espírito de o trespassar, isso, quaisquer que sejam os golpes que receba enquanto se aproxima.
Hirayama Gyozo escreveu num dos seus livros, Kensetsu (Explicação da espada):
“O objectivo da arte da espada é matar o inimigo. O essencial é fazer passar o vosso espírito “matador” através da barriga do adversário.”
À escola de Hirayama Gyozo chama-se Sinkan-ryu ou Shinnuki-ryu (escola de atravessar pelo espírito ou escola de atravessar pelo essencial, conforme os ideogramas).
Segundo Hirayama Gyozo, se o vosso espírito atravessa o adversário, sois os vencedores e esse é o método mais seguro e eficaz em combate real com espada. Vemos aqui um trabalho energético que visa o reforço do espírito da maneira mais directa. A simplicidade deste treino reside na repetição de um só gesto, no que é comparável ao exercício aparentemente simples de permanecer de pé e imóvel em “ritsu-zen” (zen em pé). No entanto, com a postura imóvel do ritsu-zen, exercemos o espírito no sentido de criar uma disposição mental e física destinada a esmagar o adversário, qualquer que ele seja. No combate com sabre, é preciso utilizá-lo correctamente, daí que o exercício simples de suburi seja a base do método de Hirayama Gyozo. O seu método é, assim, resumido a um gesto simples e ao reforço daquilo que é o fundamental do combate. Caracterizaria-o então como um método que visa reforçar directa e simplesmente o essencial da energia: o ki do combate.
Na tradição da espada japonesa, o método energético é o mais frequentemente aplicado, paralelamente ao método do kata ou a continuação do mesmo. Referirei, como exemplo, dois mestres célebres do séc. XIX, Shiraï Toru (1783-1845?) e Yamaoka Tesshu (1836-1888), na foto acima, que seguiram essa tendência.
Os problemas encontrados por esses dois adeptos são incontornáveis para qualquer reflexão sobre o método (N.Tr.: de treino) nas artes marciais japonesas.

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