25.5.04

A MENSAGEM É CLARA.

Devemos praticar as técnicas base do kendo até aos 50 anos. Assim, essas técnicas passam a fazer parte de nós. Muita gente pensa que os fundamentos são apreendidos nas primeiras fases do treino de kendo. Esse é um erro muito comum. Muitos “enterram” os fundamentos no seu subconsciente e nunca mais voltam a pensar neles uma segunda vez. Levei 50 anos para aprender os fundamentos do kendo e para que eles passassem a ser parte do meu corpo e do meu espírito. Não entrei na verdadeira disciplina do kendo senão aos 50 anos. Isso porque estava determinado a praticar kendo usando a minha mente.
Aos 60 anos, as costas e os membros inferiores enfraquecem. A mente pode complementar a fraqueza do corpo. Pratiquei kendo (nessa altura) utilizando a mente para compensar a minha fraqueza física.
Aos 70 anos, todo o corpo enfraquece. Então, eu pratiquei para tornar a minha mente imóvel e imperturbável. Quando a mente permanece imóvel e concentrada, tal como um espelho, ela reflecte a mente do adversário. Tentei sempre manter essa concentração.
Quando cheguei aos 80 anos a minha mente tornou-se imóvel e concentrada. Aspiro a eliminar todos os pensamentos que possam interferir.
Mas admito que ainda me ocorrem distracções ocasionais.

Mochida Moriji 10º dan Hanshi. (1885-1974)


THE MESSAGE IS CLEAR.
You must practice the fundamentals of kendo until you’re fifty. The basics then become part of you. When you think of the basics, they are often assumed to be something that was mastered in the early stages of a kendo career. This is a misconception. Many people bury the fundamentals deep in their minds without giving them a second thought. It took me fifty years to learn the fundamentals, and to make them part of my body and soul. I did not enter the true discipline of kendo until I was fifty. This was because I was determined to practice kendo with my mind
When you’re 60, your back and your legs begin to weaken. The mind will complement the weakness of the body. I practiced kendo by using my mind to compensate for my physical weakness.
When you’re 70, your all body begins to weaken. I practiced to make my mind immovable and not to be disturbed. When the mind is immovable and focused, it will reflect the opponent's mind like a mirror. I’ve tried to retain this focus.
When I reached 80, my mind became focused and immovable, I seek to eliminate interfering thoughts.
I admit that I have occasional distractions.

Mochida Moriji 10th dan Hanshi. (1885-1974)

19.5.04

NOVO LIVRO DE KENDO

Pois é, comprei um novo livro de kendo. Ia a passar com sempre faço na zona dos livros de artes marciais na FNAC, e, eis senão quando, vejo uma nova lombada. Sim, porque eu já conheço aquela prateleira de cor e salteado.
Chama-se "Kendo elements, rules, and philosophy" e foi escrito pelo senhor Jinishi Tokeshi, yondan de kendo e sandan de iaido. Um senhor doutor que nasceu e cresceu no Japão mas que vive hoje em dia no Hawaii.
Talvez por isso, este livro é muito parecido com um outro que o senhor Arnold Fukutomi nanadan teve a generosidade de me oferecer e de me enviar pelo correio, e que é o manual de treino do Aiea Taiheiji kendo club, que não por acaso fica no Hawaii na mesma ilha, Oahu, onde Jinishi Tokeshi vive.
Interessante é que é talvez dos primeiros manuais de kendo que encontro onde o nito-ryu não é apenas mencionado, mas onde também algumas técnicas são apresentadas.

16.5.04

WHAT IS KENDO?

Esse é o título do documento que encontram em http://www.kendo.pt/download.htm, a página de downloads do site da Associação Portuguesa de Kendo e que podem descarregar e assistir. Trata-se um dos trabalhos que este vosso criado (salvo seja) concebeu, produziu, realizou, editou e "locutou" aquando da estadia num workshop de 5 semanas em Londres, na New York Film Academy da capital dos cámones.
O ficheiro está disponível em dois tamanhos: 1,2 megas (BUUUU)e 8,5 megas (eh, OK).
Opiniões são bem vindas.

WHAT IS KENDO?
This is the title of a file that you can find in http://www.kendo.pt/download.htm, the download page of the Portuguese Kendo Association. It's one of works that I conceved, produced, directed, edited and "voiceovered" during my 5 weeks stay in London, in a workshop in the New York Film Academy of the limey capital.
The file is available in two sizes: 1.2 MB(BUUUU) and 8,5 MB(eh, ok).
Feedback is wellcome.

11.5.04

MUSASHI, QUAL MUSASHI? (2)

Já aqui referimos no 1º post dedicado a este tema algumas das "inverdades" que têm sido tidas como factos e repetidas ao longo dos tempos acerca de Miyamoto Musashi (M.M.). Hoje, para concluir, vamos falar um pouco acerca daquelas coisas menos referidas acerca do nosso samurai favorito de todos os tempos.
Se toda a gente sabe (?!?) quem era M.M. apenas alguns mais interessados estarão a par do uso que o mesmo fazia das duas espadas: a longa, a katana, e a curta, denominada wakizashi. E também aí existem alguns mitos, pelo que seria bom deixar alguns "avisos à navegação". Por exemplo, M.M. NÃO INVENTOU o uso das duas espadas em combate. O uso do Wakizashi era natural quando o guerreiro se encontrava cercado de inimigos no campo de batalha.
O que Musashi fez, sim, foi sistematizar, codificar um método de combate, método esse, criado de forma a optimizar o uso das duas espadas pelo samurai.
Interessante é que nunca se imagina, quando se refere o uso de dois sabres, aquela que seria a técnica mais natural: o lançamento do sabre curto. M.M., por seu lado, não só pensou no caso, como elaborou também uma forma particular de lançar o wakizashi. Segundo um documento existente: "Musashi era capaz lançar o sabre curto e trespassar um peixe num riacho."
E essa técnica de lançamento sobreviveu ao seu criador; é ainda hoje ensinada em algumas escolas de espada japonesa inspiradas pelos ensinamentos de M.M., e é conhecida sob o nome de Musashi-ryû shuriken.
Nessas escolas, o praticante destro usa naturalmente o sabre curto na mão direita. Claro que a técnica de lançamento do sabre curto é sobretudo eficaz quando o adversário ignora essa possibilidade.
No tempo dos samurais se, durante um duelo, um dos participantes usasse o sabre curto na mão direita, o outro desconfiaria naturalmente de um eventual lançamento. Mas se o usasse na mão esquerda, isso já seria com toda a certeza menos provável.
Pormenor final: diz-se, e parece ser o mais provável, segundo alguns historiadores, que Miyamoto Musashi... era canhoto.

bibliografia utilizada
"Miyamoto Musashi" de Kenji Tokitsu
Editions DesIris, Méolans-Revel 1998.

"Musashi" de Eiji Yoshikawa
Editions J'ai Lu, Paris 2002.

"Kendo, it's philosophy, history and means to personal growth" de Minoru Kiyota
Kegan Paul International Limited, London, New York 1995.

10.5.04

MUSASHI, QUAL MUSASHI?

Como é normal acontecer quando se fala de um personagem tão singular, também com Miyamoto Musashi (M.M.) é caso para dizer que os factos históricos se misturam com a lenda existente à volta do mesmo.
Neste caso, porém, há um "pequeno pormenor" que ajuda ainda mais a criar confusão e a tornar ainda mais difusa a verdadeira imagem (ou pelo menos, impede a obtenção uma imagem mais concreta) daquele que é o mais conhecido samurai japonês de sempre. Esse "pequeno pormenor" é um ROMANCE (atenção à palavra: ROMANCE) com, na edição que possuo, cerca de 1400 páginas, intitulado precisamente Musashi e que é da autoria do escritor Eiji Yoshikawa.
E é de tal forma importante que os historiadores que se debruçaram sobre a vida de M.M. não hesitam em declarar que existem dois M.M., sendo um deles, o do ROMANCE, designado correntemente como Yoshikawa Musashi por oposição ao verdadeiro.
Muitas são as "inverdades" que o ROMANCE, e pior ainda, os três filmes que foram feitos a partir do mesmo, veiculam. Por exemplo, a frase: "M.M. era orfão, foi criado por um tio e era um auto-didacta das artes marciais." tem muito que se lhe diga. M.M. não era um infeliz sem família, que subiu sozinho na vida, como muitos gostam de pensar. Pelo contrário.
Hoje sabe-se muito bem quem era o seu pai. O seu nome era Miyamoto Munisaï, mestre na arte do sabre japonês e conhecedor profundo de outras disciplinas, tais como o jûjutsu e o sojutsu, a arte do combate com lança... mas vamos ainda mais longe, o seu avô Hirata Shôkan, por exemplo, fundou mesmo uma escola de sabre, a Tôri-ryû.

Curioso? Então não perca os próximos capítulos onde se falará do nito-ryû e de como M.M. não inventou o uso das duas espadas em combate, mas apenas o sistematizou.

E sabia que tudo leva a crer que M.M. era canhoto? E daí? Veremos.

7.5.04

O QUE É ZANSHIN?

Zanshin é tudo no kendo. É um estado de atenção extrema a tudo o que nos rodeia. No kendo, Zanshin está directamente relacionado não só com a acção propriamente dita, ou seja, com uma boa postura durante a prática das técnicas, mas também com o antes e o depois das mesmas.
Isto tudo quer dizer o quê? Que "estado de atenção extrema" é esse? Se eu utilizar a palavra TRANSE possivelmente muitos ficarão chocados e chamar-me-ão místico, mas essa é talvez uma das melhores maneiras de definir. Eu explico. Transe não significa aqui, um estado de exaltação sensorial em que o kendoka sua, baba-se abundantemente e diz baboseiras a torto e a direito, nada disso. O transe a que me refiro é mais próximo de situações que todos nós conhecemos bem. Quem já foi forçado a conduzir um automóvel durante uma grande viagem nocturna, talvez nunca se tenha apercebido do estado próximo do transe em que se encontrou.
Esse é o "estado de atenção extrema" a que me refiro. Essa zona de consciência em que nos encontramos, onde, apesar de tudo o que a situação requer constantemente de nós, não deixamos de ser capazes de falar com quem nos acompanha, de ligar o rádio, de comer, etc, etc.
ISSO É ZANSHIN.
OK, então e essa história do "antes e depois da prática"?
Iwatate Saburo, 8º dan Hanshi, diz que Zanshin se manifesta logo no momento em que o kendoka saúda o oponente. Continua quando executa sonkyo e na maneira como se levanta depois de "desembainhar" o shinai. Ainda durante a prática, e mesmo sabendo que não está a desempenhar tão bem como habitualmente, Zanshin manifesta-se no modo como persevera e mantém a concentração. Depois da prática, a maneira como guarda o shinai e se retira, como saúda aquele com quem praticou e até como se retira da área de prática, seja shiaijo ou dojo, tudo isso deve reflectir, emanar Zanshin.

1.5.04

FALTAVA O SÉRGIO, FALTAVA O SÉRGIO.

Mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa. Eu bem me parecia que faltava alguém. Assim foi, pois quando desejei boa sorte todos os que foram a Budapeste, faltou mencionar um dos nossos melhores representantes: o Sérgio. Aqui fica a rectificação e desejos de um bom Campeonato da Europa, no ano que vem na Suíça.

I FORGOT SÉRGIO, I FORGOT SÉRGIO.
Mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa. I knew I'd forgotten someone when I wished good look to all the guys going to Budapest well, as a matter of fact, I forgot to mention one of our best representatives: Sérgio.
So here is the apology and wishes a good european championships, next year in Switzerland.