9.4.09

ACERCA DE JODAN-KAMAE (2)

O que me parece

Então vamos por partes.
Quando comecei a usar jodan-kamae perguntei muita coisa ao sensei Osaka. Outras vezes, quando não perguntava, era ele que, depois de um ji-geiko entre ambos, normalmente a seguir ao treino e já a caminho de Campo de Ourique, me “adiantava” algumas dicas, normalmente bastantes interessantes, diga-se de passagem.

O que é que jodan-kamae tem que chudan-kamae, por exemplo, não tem? Para além da “ameça eminente de golpear”, chamemos-lhe assim? Nada. Na verdade, tudo o que se diz acerca de jodan, em termos de atitude, deveria dizer-se acerca de chudan, também.

Chudan-kamae, segundo me dizia Osaka sensei, “para ser bem feito, deve ser tão agressivo como jodan”.

O mal é que, e ainda nas palavras do mesmo, as pessoas muitas vezes “estão a dormir/descansar quando fazem chudan”. Ou seja, chudan-kamae transforma-se numa posição de espera, muito mais do que numa posição de quem está prestes a ter um confronto.
Aliás, basta fazer ji-geiko com alguém um bocadinho mais graduado, 5º ou 6º dan para cima, para se perceber a diferença entre essas duas atitudes.

Mas voltemos a jodan. Um dos motivos usados mais frequentemente para justificar a suposta maior agressividade de jodan, relaciona-se com uma maior exposição face ao adversário. Ou seja, o do está completamente aberto e para além do kote direito, também o esquerdo (ao contrário de chudan-kamae) é datotsu. E está igualmente exposto às investidas do oponente.


Ora a grande diferença (vantagem) de jodan-kamae, referi-me eu lá atrás, era a “ameça eminente de golpear”.
Isto é, se é verdade que há mais oportunidades de ser atingido (e em mais locais, inclusivamente) por outro, não é preciso ser um cientista atómico para ver, e perceber, que jodan-kamae está, em relação aos outros kamae, literalmente numa fase mais avançada. E não me refiro aqui a nenhuma filosofia ou estado de espírito especiais. Estou a ser prático; as mãos já estão levantadas. “Tudo” o que é necessário fazer para golpear... é baixá-las.

Sempre que releio a definição de Chiba sensei (ver post anterior) não posso deixar de pensar como este aspecto, meramente prático, faz, ipso facto, parte integrante da essência de jodan.
Quem está em chudan para executar shikake-waza “tem de subir e descer”; quem está em jodan já subiu e só tem de descer.
Donde o “superar o oponente (atacando) por cima”. A vantagem em termos de tempo de execução é clara... ou porque é que acham que tsuki é o gesto favorito para se combater contra jodan? Mero sadismo? Porque é que é raro ver dois combatentes, chudan vs chudan executarem tsuki, e é ainda mais raro ver um combate chudan vs jodan SEM tsuki?

Ah, espera lá, pois é... tsuki é o ÚNICO gesto técnico que, por não necessitar desse “sobe e desce”, permite ter um acesso mais rápido (e directo) ao adversário em jodan.

Enfim, para terminar este pequeno devaneio vou deixar-vos com um pensamento de um senhor japonês chamado Kanaki Satoru, (8º dan kyoshi) que nos seus tempos de jovem ganhou uns campeonatos combatendo em jodan, e que me parece bastante apropriado.

“Quando o teu oponente se mantém firme e mesmo aumentando a pressão (seme) isso não o faz mover-se, espera e quando ele te atacar, golpeia sem pensar (naturalmente). Não te precipites a atacar (...) antes procura um corte perfeito (...) atacando apenas quando vês as (verdadeiras) intenções do adversário.”

Tanto pior para o atacar, atacar, atacar, certo?

7.4.09

ACERCA DE JODAN-KAMAE (1)

27ºs All Japan Kendo Championships (1979)

T. Kawazoe (jodan) vs K. Horiyama


INTRODUÇÃO
Tem piada como estas coisas acontecem. Andava a passear pela net, quando, nos “sítios do costume” relacionados com kendo, comecei a reparar numa maior proliferação de referências a jodan-kamae.
Fruta do tempo talvez, afinal de contas, o actual campeão do Japão (Shoudai Kenji) é adepto da referida kamae, mas o que é certo é que, de repente, toda a gente parece ter uma palavra a dizer acerca do assunto.
E eu pensei: “olha, porque não fazer, eu também, um post totalmente dedicado à coisa?” E se assim o pensei, assim o fiz, e o resultado é este post que agora publico e o que em breve se seguirá:

Acerca dos pressupostos

É suposto que quem combate em jodan-kamae, deva ser mais agressivo do que os que não o fazem. Já foram escritas milhares de opiniões, milhares de vezes e toda a gente parece concordar com este ponto.
Para uns, é porque jodan é o kamae do fogo; para outros, porque é o kamae da justiça, ou do coração ou do céu ou do diabo que o carregue... mais coisa, menos coisa, toda a gente é unânime em afirmar que: quem assume hidari-jodan-kamae tem de ter uma postura mais agressiva.
Quão agressiva, perguntarão? Pois bem, agressiva ao ponto de, normalmente, se transformar o kendoka utilizador de jodan-kamae numa espécie de kamikaze. Porque tem de “ir com tudo”, porque deve estar constantemente a atacar, porque não pode e/ou não deve recuar (o quê???) e por uma data de outras barbaridades semelhantes.

O adepto de jodan perfeito é, segundo essas opiniões, um ser feroz, acéfalo e privado de qualquer ponta de estratégia que não seja a de marrar em frente, constantemente, como um vulgar touro de lide.

Pois bem... eu não concordo. Pronto, já disse... ok? Olha, processem-me.

Mas então qual é o espírito que deve ter um kendoka em jodan? Bom, segundo umas das maiores autoridades mundiais no assunto, Chiba Masashi sensei: “o espírito (que deve prevalecer) em jodan-kamae é o de superar o oponente (atacando) por cima e de triunfar no (caso de) ai-uchi (ataque simultâneo)”.
Não era bem o que muito boa gente esperava, pois não?

No próximo post:
O que é que jodan-kamae tem que chudan-kamae, por exemplo, não tem?
Para além de uma “ameaça eminente de golpear”, chamemos-lhe assim, nada.