13.2.07

KATA: SIM OU SIM E PORQUÊ? (4 E ÚLTIMO)

Para assistir aos dez katas actuais (7 tachi + 3 kodachi) clique no link
http://www.youtube.com/watch?v=XWzdIpayeFk

Nakanishi Chuta Tanesada não é um nome imediatamente reconhecido no mundo das artes marciais. De tal modo, que até hoje há quem discuta se estudou kenjutsu instruído por Ono Jiroemon Tadakata, o quinto representante da tradição do Ono-ha Itto-ryu, ou pelo sexto, Ono Jiroemon Tadakazu.

No entanto, o que se sabe é que depois de alguns desacordos com os seus superiores, Nakanishi Chuta abandonou o estilo Ono-ha Itto-ryu e fundou a sua própria escola de kenjutsu denominada Nakanishi-ha Itto-ryu*.

Quando, por volta de 1750, Nakanishi teve a idéia (mais tarde implementada pelo seu filho e sucessor Nakanishi Chuzo Tadakata) de desenvolver e melhorar as protecções existentes utilizadas dos praticantes de kenjutsu**, estava, de certa maneira e pela primeira vez, a separar as águas daquilo a que hoje comumente nos referimos como kendo e kenjutsu, ou se se quiser ser um bocadinho mais radical, entre shinai-kendo e kendo-kata.

Claro que muitos anos e muitos acontecimentos tiveram de ter lugar antes que o kendo se transformasse naquilo que é hoje, e é também claro que Nakanishi Chuta não terá nunca (injustamente?) a fama de um Miyamoto Musashi, mas o seu papel de pioneiro na concepção e melhoramento do equipamento protector foi, é e deverá ser sempre entendido um dos maiores e mais importantes contributos para o desenvolvimento não só do kendo, mas do próprio budo.

Basicamente, o que Nakanishi Chuta fez foi separar e identificar os diferentes elementos que, digamos assim, constituem, por um lado, o “vocabulário” e, por outro, a “gramática” da linguagem do kendo.
Desde essa altura, o kenjutsu, propriamente dito, e tudo o que ele envolve, kumitachi, kata, reiho, etc, passa a ser o vocabulário, a fonte, a origem das diferentes técnicas.
A parte de combate, e na falta de melhor palavra, chamemos-lhe kendo, passa a ser a gramática, que é como quem diz, a utilização dos vocábulos no diálogo (combate) com o opositor.

Chegamos assim ao fim da nossa viagem. Para que serve kata?
Continuando a abusar um bocadinho da metáfora da linguagem, e esperando que não da vossa paciência, kata serve para se poder falar melhor.
Kata serve para se saber a origem das palavras que trocamos todos os dias.

Kata ensina a ver (enzan no metsuke), ensina ritmo e ma-ai; ensina a respirar, a posicionar-se e a deslocar-se.
Kata ensina a tomar iniciativa e a esperar.
Kata ensina a liderar e a seguir.
Kata ensina tudo isso e muito, muuuuito mais.

Em resumo, kata ensina os fundamentos da boa linguagem do kendo.
E essa, é preciso não esquecer, é como qualquer outra linguagem:

O QUE INTERESSA NÃO É FALAR DEPRESSA, O QUE INTERESSA É FALAR BEM.

Abayo.


*“Ha” significa facção ou variante. Assim, Nakanishi-ha Itto-ryu significará algo como “a variante Itto-ryu de Nakanishi”.
**Acerca deste assunto, ver a versão corrigida do artigo “A escola da paciência” algures neste blog.

2 comentários:

Kodomo disse...

Adorei esta conclusão para esta sequência de posts sobre Kata. Gostei mesmo muito e fiquei a saber coisas que desconhecia. Espero que tenha aberto os olhos de muitos praticantes para a importância de fazer Kata.

Permite-me só acrescentar uma coisa em relação ao objectivo de fazer kata, e que se aplica também ao Kendo em geral.

Fazemos Kendo e Kata, porque gostamos de o fazer...porque nos dá prazer. Para mim é um dos objectivos mais importantes :D
Obrigado caro Joaquim :D

PS: quando é que a Kendo-world publica a tua tradução da história do kendo moderno? i'm waiting... :P

Usagi-san disse...

Os tipos do Kendo-World devem ser as únicas pessoas no mundo que conseguem ser mais baldas que eu. Portanto, não imagino quando é que vão publicar o raio da tradução.

Outro dia mandei uma mensagem ao Bennett a perguntar sobre o tema mas nem obtive qualquer resposta.