O prometido é devido. Há uma mão cheia de tempo que tinha prometido transcrever um texto de Venceslau de Moraes (V.M.) sobre o Jiu-jitsu.
Para quem não sabe, V.M. de seu nome Venceslau José de Sousa de Moraes nasceu em Lisboa a 30 de Maio de 1854 e viveu no Japão desde 1899, onde exerceu os cargos de Cônsul interino em Hyogo e Osaka e depois de Cônsul, em Kobe e, de novo, em Osaka.
Apaixonado pelo Japão ( e pelas japonesas, o malandro ) V.M. casou-se, entre outras, com uma gueisha, de seu nome O Yoné ( senhora Bago de Arroz ).
Da sua obra destaca-se Dai Nippon, escrito em 1897, quando ainda vivia em Macau, Bon Odori em Tokushima de 1911 e Relance da Alma Japonesa de 1925.
Convertido ao budismo, V.M. morreu no Japão, em Tokushima, a 1 de Julho de 1929.
O texto que aqui apresento faz parte do livro Cartas do Japão, escritas de 1902 a 1913 para o jornal Comércio do Porto, e publicadas em 4 séries, sendo o presente parte integrante da terceira série denominada A Vida Japonesa.
A edição que utilizo de A Vida Japonesa foi publicado em 1985 por Livraria Chardron de Lello & Irmão – Editores, Porto.
Então vamos lá e lembrem-se que este texto foi escrito em 28 de Junho de 1905:
“Sabeis o que é o jiu-jitsu, ou jujutsu? O termo anda agora, nos países ocidentais, bastante em moda. O jiu-jitsu é uma arte de defesa e de ataque dos japoneses, herdada da China, onde parece estar esquecida, e aperfeiçoada aqui com constante assiduidade; actualmente europeus e americanos prestam-lhe atenção minuciosa, recorrendo a professores nipónicos, no intuito de lhe conhecerem os segredos e tirarem deles o merecido proveito. O jiu-jitsu consiste, condensando em poucas palavras a teoria, em tirar da própria fraqueza eficiência que vença e derrube a robustez do adversário. É a arma dos fracos, ou então o lutador tem de supor-se fraco e de actuar como fraco, pois, é princípio admitido que nada melhor se pode opor à força bruta dos músculos do inimigo do que a fraqueza sistematicamente aproveitada. Ainda há pouco me dizia um robusto europeu, na pujança da vida, que o seu professor japonês na arte do jiu-jitsu, velho, exangue, com quase setenta anos de idade, o prostrava na luta, sempre que assim queria. Eis um dos grandes princípios fundamentais do jiu-jitsu, devido a um sábio chinês dos velhos tempos: “O homem, ao nascer, é flexivel e fraco; na morte, firme e rígido; assim com as causas: firmeza e rigidez são as concumitâncias da morte; flexibilidade e fraqueza, as concumitâncias da vida; por este modo, aquele que confia na sua própria força, não será o conquistador.”
É lindo ou é lindo? Adoro quando ele diz que: “O termo anda agora, nos países ocidentais, bastante em moda.”
7.4.04
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário