ou seria mera eficiência?
Há aproximadamente um ano que se treina kendo, de forma regular, em Faro.
Sendo eu uma das pessoas envolvidas directamente no referido processo não vou, no entanto, fazer aqui a apologia da pequena organização da qual faço parte, mas mais tentar perceber, tanto quanto me for possível, o que mudou na minha maneira de encarar (e de praticar!) o kendo no último ano.
Por mais que se queira branquear a prática da esgrima japonesa contemporânea, o que é um facto é que o kendo é o herdeiro de uma série de actividades cujo objectivo primordial era o aprimoramento de técnicas de combate destinadas basicamente a matar e/ou mutilar outros seres humanos.
Quem apenas vê numa técnica como kote-uchi (golpe no pulso) uma maneira eficaz, porque de percurso mais curto, de obter uma vantagem numa competição, ou mesmo durante ji-geiko, não está certamente a ver a imagem completa.
Como “gestor” das aulas do Clube de Kendo de Faro este é um dos problemas que me tem vindo a afligir. Como ensinar aos alunos a essência de uma técnica num ambiente que não recria, de forma nenhuma, os objectivos para os quais essas foram originalmente criadas?
Como demonstrar algo mais do que o factor da eficiência, imediata, do waza, e levar os alunos a perceber o âmago de cada técnica, a eficácia da mesma?
Eficiência, eficácia? Façamos aqui um pequeno parênteses. Há dias, por motivos relacionados com trabalho, dei por mim frente a frente com a definição de Eficiência versus Eficácia. Se procurarem num dicionário o mais provável é que, em última análise, estas duas palavras sejam consideradas sinónimos. No mundo da gestão empresarial, no entanto, não é assim, e elas adquirem uma carga muito especial quando colocadas lado a lado.
Neste contexto, especificamente, eficiência surge-nos como a capacidade de fazer uma coisa da maneira mais correcta.
Eficácia, por sua vez, é a capacidade de fazer a coisa mais correcta. Confusos? É facil.
Por exemplo: confrontados com uma pequena inundação num corredor de uma escola, dois contínuos reagem de maneiras diferentes.
Um deles corre até uma arrecadação, agarra numa série de panos velhos que lá estão e que não têm qualquer utilidade, e começa a usá-los para vedar as portas das salas de aula, evitando assim que a água passe por debaixo das mesmas e as inunde. Ele foi extremamente eficiente.
Sendo eu uma das pessoas envolvidas directamente no referido processo não vou, no entanto, fazer aqui a apologia da pequena organização da qual faço parte, mas mais tentar perceber, tanto quanto me for possível, o que mudou na minha maneira de encarar (e de praticar!) o kendo no último ano.
Por mais que se queira branquear a prática da esgrima japonesa contemporânea, o que é um facto é que o kendo é o herdeiro de uma série de actividades cujo objectivo primordial era o aprimoramento de técnicas de combate destinadas basicamente a matar e/ou mutilar outros seres humanos.
Quem apenas vê numa técnica como kote-uchi (golpe no pulso) uma maneira eficaz, porque de percurso mais curto, de obter uma vantagem numa competição, ou mesmo durante ji-geiko, não está certamente a ver a imagem completa.
Como “gestor” das aulas do Clube de Kendo de Faro este é um dos problemas que me tem vindo a afligir. Como ensinar aos alunos a essência de uma técnica num ambiente que não recria, de forma nenhuma, os objectivos para os quais essas foram originalmente criadas?
Como demonstrar algo mais do que o factor da eficiência, imediata, do waza, e levar os alunos a perceber o âmago de cada técnica, a eficácia da mesma?
Eficiência, eficácia? Façamos aqui um pequeno parênteses. Há dias, por motivos relacionados com trabalho, dei por mim frente a frente com a definição de Eficiência versus Eficácia. Se procurarem num dicionário o mais provável é que, em última análise, estas duas palavras sejam consideradas sinónimos. No mundo da gestão empresarial, no entanto, não é assim, e elas adquirem uma carga muito especial quando colocadas lado a lado.
Neste contexto, especificamente, eficiência surge-nos como a capacidade de fazer uma coisa da maneira mais correcta.
Eficácia, por sua vez, é a capacidade de fazer a coisa mais correcta. Confusos? É facil.
Por exemplo: confrontados com uma pequena inundação num corredor de uma escola, dois contínuos reagem de maneiras diferentes.
Um deles corre até uma arrecadação, agarra numa série de panos velhos que lá estão e que não têm qualquer utilidade, e começa a usá-los para vedar as portas das salas de aula, evitando assim que a água passe por debaixo das mesmas e as inunde. Ele foi extremamente eficiente.
O outro contínuo, por sua vez, vai até à casa-de-banho de onde a água corre e fecha a torneira que deu origem ao pequeno dilúvio. Ele foi extremamente eficaz.
Ora voltemos então ao assunto. Uma das coisas que mais me preocupa quando dou as aulas de kendo aqui em Faro, tem a ver com essa mesma distinção que me parece bastante relevante.
É claro que é muito importante saber fazer o tal kote de uma maneira eficiente. Mas como demonstrar a eficácia do mesmo?
A (minha também) primeira reacção foi relacionar a eficiência com o treino e a eficácia com a competição. E pareceu-me bem.
Eficiência é o trabalho dos detalhes, é o percurso ideal que o shinai deve percorrer para que atinja convenientemente o alvo, é a velocidade, é a boa utilização do hasuji... mas também é coisas mais subjectivas como demonstrar zanshin, gerir maai ou criar suki... enfim, é ser capaz de “dominar” toda a componente técnica e estratégica do movimento. Eficiência é fazer uma coisa (ou várias, kote, men, do, tsuki) da maneira mais correcta.
Eficácia, assim e por sua vez, seria a utilização dessa eficiência para um fim mais vasto, mais amplo e mais exigente, como a competição. É ser capaz de entender quais as técnicas que melhor se adaptam a cada adversário e utilizá-las da forma mais adequada. Em resumo, eficácia é a capacidade de fazer a coisa (kote? ou men? ou do? tsuki, talvez?) mais correcta, segundo as necessidades do momento.
E estaria tudo muito bem se estivessemos, por exemplo, a falar de técnicas de... sei lá, futebol? Mas não estamos, estamos a falar de kendo, e o que transforma as afirmações acima numa enorme falácia é o facto de, como todos sabemos, a vertente competitiva no kendo, apesar de ser algo aconselhado por todos, não é, por outro lado, verdadeiramente indispensável. Certo?
Por uma questão de conveniência vamos analisar esta afirmação de duas maneiras possíveis: falsa e verdadeira.
Se a afirmação fôr falsa, o problema que se nos levanta é: quer isso dizer que a eficácia do kendo se encontra na competição? Então, sendo assim, uma vez que a carreira competitiva termina (por motivos de idade, lesão, pre-desposição, etc) já não faz sentido continuar a fazer kendo? E, se assim é, vale a pena tampouco praticar kendo se não se tenciona praticar competição?
Se a afirmação fôr verdadeira, então isso significa que, de facto, há algo mais no kendo e que a sua essência se encontra para lá do simples “ganhar ou perder”, significa que o kendo deve forçosamente “fazer sentido numa dimensão diferente”.
Se calhar, o problema da eficácia encontra-se num outro nível, que eu não sei ainda identificar... talvez impregnado debaixo das inúmeras camadas de esoterismo dos kata?...
Ora voltemos então ao assunto. Uma das coisas que mais me preocupa quando dou as aulas de kendo aqui em Faro, tem a ver com essa mesma distinção que me parece bastante relevante.
É claro que é muito importante saber fazer o tal kote de uma maneira eficiente. Mas como demonstrar a eficácia do mesmo?
A (minha também) primeira reacção foi relacionar a eficiência com o treino e a eficácia com a competição. E pareceu-me bem.
Eficiência é o trabalho dos detalhes, é o percurso ideal que o shinai deve percorrer para que atinja convenientemente o alvo, é a velocidade, é a boa utilização do hasuji... mas também é coisas mais subjectivas como demonstrar zanshin, gerir maai ou criar suki... enfim, é ser capaz de “dominar” toda a componente técnica e estratégica do movimento. Eficiência é fazer uma coisa (ou várias, kote, men, do, tsuki) da maneira mais correcta.
Eficácia, assim e por sua vez, seria a utilização dessa eficiência para um fim mais vasto, mais amplo e mais exigente, como a competição. É ser capaz de entender quais as técnicas que melhor se adaptam a cada adversário e utilizá-las da forma mais adequada. Em resumo, eficácia é a capacidade de fazer a coisa (kote? ou men? ou do? tsuki, talvez?) mais correcta, segundo as necessidades do momento.
E estaria tudo muito bem se estivessemos, por exemplo, a falar de técnicas de... sei lá, futebol? Mas não estamos, estamos a falar de kendo, e o que transforma as afirmações acima numa enorme falácia é o facto de, como todos sabemos, a vertente competitiva no kendo, apesar de ser algo aconselhado por todos, não é, por outro lado, verdadeiramente indispensável. Certo?
Por uma questão de conveniência vamos analisar esta afirmação de duas maneiras possíveis: falsa e verdadeira.
Se a afirmação fôr falsa, o problema que se nos levanta é: quer isso dizer que a eficácia do kendo se encontra na competição? Então, sendo assim, uma vez que a carreira competitiva termina (por motivos de idade, lesão, pre-desposição, etc) já não faz sentido continuar a fazer kendo? E, se assim é, vale a pena tampouco praticar kendo se não se tenciona praticar competição?
Se a afirmação fôr verdadeira, então isso significa que, de facto, há algo mais no kendo e que a sua essência se encontra para lá do simples “ganhar ou perder”, significa que o kendo deve forçosamente “fazer sentido numa dimensão diferente”.
Se calhar, o problema da eficácia encontra-se num outro nível, que eu não sei ainda identificar... talvez impregnado debaixo das inúmeras camadas de esoterismo dos kata?...
Daqui a mais um ano digo-vos mais.?.
E pronto. Fiquei na mesma.
(continua?)
(continua?)