Resta-me apenas um grande agradecimento ao senhor McCall: Thanks George.
Então, Fujimoto Kaoru?… alguma vez ouviram este nome antes? Provavelmente não. Até há bem pouco tempo também eu nunca o tinha ouvido. Mas, tal como eu, as pessoas que lêem este website podem ver a sua fotografia (acima). Então quem era ele e – se era suficientemente forte para combater em frente ao imperador – porque não é ele mais conhecido hoje em dia (nem ao menos nos círculos do kendo japonês)?
Fujimoto participou no segundo dos três “Tenran Shiai” (competições que tinham lugar perante o imperador) em 1934 como representante da prefeitura de Kagawa. Na final lutou – e perdeu – contra o filho famoso de Noma Seiji, o dono da editora Kodansha, um dos mais jovens e mais fortes kenshis do país: Noma Hisashi.
Apesar do seu 2º lugar e de ter apenas 21 anos (e da suposta oposição geral por combater em gyaku-nito-ryu), a sua posição na comunidade do kendo estava assegurada. No entanto, esses eram tempos turbulentos e Fujimoto acabou por morrer em 1942, com apenas 28 anos, enquanto prestava serviço no exército na Birmânia.
(Nota: Noma Hisashi é mais conhecido no mundo do kendo por ser o autor de “The Kendo Reader”)
Os primeiros anos
Fujimoto Kaoru nasceu no dia 1 de Janeiro de 1914 em Hiroshima, sendo o primeiro filho de Fujimoto Toshio. Em 1925 a família mudou-se para a sua cidade de origem, Komatsu, na prefeitura de Kagawa, onde Toshio assumiu o cargo de director do posto de correios. Um ano depois, Kaoru terminou a escola primária e entrou para o Liceu Komatsu, onde ingressou no clube de kendo.
Gyaku nito
O interesse pelo nito parece ter surgido bastante cedo na sua carreira de kendoka. Porque escolheu combater assim é algo que não se sabe, mas o facto é que, nessa altura, utilizar dois shinais não era uma coisa rara.
No entanto, a escolha de gyaku nito (daito 3.6 na mão esquerda e shoto 2.6 na direita) é normalmente atribuida ao facto de ele ser canhoto.
Por essa altura, Fujimoto não tinha um professor de nito e começou a treinar sozinho utilizando garrafas cheias de areia e lendo tudo o que pode encontrar sobre a teoria de nito. Apesar do nito ser mais popular no kendo desses tempos do que no de hoje, parece que o seu uso ainda causava algum ressentimento nos meios mais tradicionais, e ainda mais quando alguém escolhia estudá-lo sem um instrutor. De facto, diz-se que o sensei do clube de kendo lhe ordenou:
『君は二刀を遣ふだけの軆力を有つて居らない、やめよ』
“Ainda não és suficientemente forte para fazer nito. Desiste.”
Apesar dos avisos do seu professor (e de outros senseis com os quais praticava) ele continuou com a sua batalha para evoluir.
Ao fim de algum tempo, Fujimoto passou a praticar não apenas na escola, mas também na sucursal do Dai Nippon Butokukai de Kagawa. Aí encontraria aquele que foi a maior influência da sua vida: Ueda Heitaro hanshi (um famoso kenshi equiparado a Mochida Seiji, Saimura Goro e outros que tais)
O interesse de Ueda pelo kendo do rapaz, bem como o facto de o mesmo começar a mostrar algum sucesso nas competições em que participava, levou a que a Fujimoto começasse a ser permita a prática de gyaku nito sem qualquer pressão externa.
A caminho de Waseda
Em 1931, a escola de Fujimoto participou nos Campeonatos Escolares, patrocinados pela Universidade de Waseda. Cada eliminatória do torneio era disputada entre três equipas, sendo que apenas uma passava à fase seguinte. Fujimoto enfrentou o (mais tarde célebre) protegido de Noma Seiji, Mori Torao - também conhecido como Tigre (Tora) Mori. Depois de um combate renhido, acabou por perder graças a um katatezuki bem colocado por Mori. Devido aos resultados das três equipas, a de Fujimoto e de Mori tiveram de fazer mais um recontro para decidir quem seguia em frente. A equipa de Mori saiu vitoriosa, mas não sem antes se repetir o combate entre ambos, onde mais uma vez Mori venceu com katatezuki.
Embora os sonhos da sua equipa terminassem aí, o kendo de Fujimoto chamou a atenção dos presentes e quando terminou os estudos secundários ingressou na Universidade de Waseda, cujo clube tinha mais de 80 membros e os professores eram, nada mais nada menos, Takano Sasaburo e Saimura Goro.
Infelizmente para fujimoto, a sua estadia em Tokyo foi de um ano apenas. O seu pai contactou-o e ordenou-lhe que voltasse para Kagawa, para o ajudar no posto de correios. Para a maioria teria sido o fim de uma carreira de kendoka, mas não para Fujimoto.
Tenran shiai
Durante o Período Showa tiveram lugar três Tenran Shiai: Showa 4 (1929), Showa 9 (1934) e Showa 15 (1940), os quais aconteceram tendo como cenário de fundo um Japão cada vez mais militarizado e mais agressivo.
O Shiai em que Fujimoto participou – o segundo, em 1934 – destinava-se a celebrar ostensivamente o nascimento de um filho na fanília real, o que foi motivo para regozijo nacional, visto que até 1933 apenas filhas, quatro, tinham nascido; por isso, o nascimento de um herdeiro – Akihito, o actual Imperador do Japão – era grande notícia.
Antes de se poder participar na competição principal, em Tokyo, era necessário ser apurado nas qualificações regionais. Fujimoto - agora funcionário dos correios – participou no torneio de qualificação de Kagawa, derrotando o seu grande amigo e rival – Ueda Hajime – na final e assegurando assim a sua posição de representante da Prefeitura.
A competição durou 2 dias, em Maio de 1934 e teve lugar no Saineikan (済寧館), um budojo no interior do Palácio Imperial em Tokyo. A estrutura com esse nome ainda existe nos terrenos anexos ao palácio, mas não tenho a certeza se é o mesmo edifício que existia antes da guerra.
A primeira e a segunda rondas de qualificação aconteceriam no primeiro dia do torneio e as meias-finais e finais no segundo. O imperador apenas assistiria ao dia das finais
Em breve, no segundo post, não percam a descrição integral, pontos marcados e tudo, da prestação - e da controvérsia gerada em torno da mesma - de Fujimoto no 2º Shiai Tenran.
Até lá.
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