22.2.05

A FORMAÇÃO DO KENDO: A JUVENTUDE DE SAZABURO TAKANO (VI)

Chegamos (finalmente?) ao último dos artigos dedicados à infância e juventude de Sazaburo Takano. Demorou um bocadinho, mas está feito. Para saber o que se segue, podem:
a - treinar o vosso francês e ir até
http://www.tokitsu.com;
b - esperar que eu traduza e publique aqui o próximo post;

A invenção dos métodos de treino
O primeiro treino do dia é o das 4 às 6 da manhã, seja Inverno ou Verão. É depois desse treino que Mitsumasa engole o sol que começa a nascer. E tal como esse, inventa outros métodos de treino particulares para o seu neto. No chão do dojo de 5,40 m por 9, Mitsumasa despeja uma medida de 36 litros de feijões duros. Sazaburo calça um par de sandálias de palha e deve treinar em cima dos feijões espalhados. Se toma balanço, escorrega e cai; se não toma balanço, o seu shinai não consegue atingir o avô. Sempre que hesita, o shinai do avô atinge-o sem piedade. Atinge-o, fá-lo tombar, projecta-o... é a prova do seu amor pelo neto.
S. Takano dirá, muito mais tarde:
“Esse treino ajudou-me a desenvolver o sentido de equilíbrio. Graças a esse treino nunca caio, mesmo que esteja calçado com gheta (chinelas de madeira) a caminhar sobre gelo.” Com efeito, S. Takano era célebre pelo seu equilíbrio e pelas suas deslocações, que se mantiveram incríveis, mesmo depois de ter atingido os 80 anos.
Em Dezembro de 1988, tive a ocasião de encontrar o mestre Saburo Imaï, 8º dan de kendo e então com 64 anos. Ele tinha recebido os ensinamentos de S. Takano quando este estava já próximo dos 80 anos. Retive (desse encontro) esta frase em particular: “Para nos explicar as deslocações, mestre Takano dizia-nos para pousarmos os pés a cada passo como se estivéssemos a pousá-los sobre um balão. Se nos apoiamos sobre um pé mais do que sobre o outro, não nos podemos equilibrar sobre um balão, não é verdade?” disse-me ele, evocando o treino sobre os feijões com que S. Takano se tinha exercitado na sua juventude.
Um dia, na altura do treino, Mitsumasa lança um bocado de tecido negro ao seu neto e diz-lhe: “Tapa os olhos.”
Sazaburo cobre os olhos com o tecido e coloca a máscara de protecção. Não consegue ver nada. O seu avõ diz-lhe então: “Gira, dá umas voltas.”
Ele obedece e perde o sentido de orientação. É nesse momento que ouve uma voz: “Vem. Anda.”
Ele assume a guarda na direcção da voz, mas é impossível saber a situação do adversário. Sazaburo tenta captar a mínima perturbação no ar como sendo um sinal da presença e fecha os olhos sob o tecido, dizendo-se: “De qualquer maneira, não vejo nada.” É então que Mitsumasa toca a ponta do shinai de Sazaburo com o seu shinai. Este lança-se e ataca, mas o seu shiani apenas atinge o ar. Mitsumasa gira em torno de Sazaburo sem ruído e bate com o shinai no chão. Sazaburo vira-se e ataca mas mais uma vez só atinge o vazio. Esta forma de treino aguça a sua percepção. Com tempo, apesar de nunca conseguir acertar uma única vez, ele consegue dirigir-se na direcção do adversário, distinguindo os menores sinais, como ruídos no chão e respiração, movimento do ar e outros.
Um dia, Mitsumasa coloca, também ele, uma venda sobre os olhos para combater com o neto. Procuram ambos o menor sinal da presença do adversário. Sazaburo recua e posiciona-se de costas para uma parede do dojo. Mitsumasa segue o ligeiro ruído da sua deslocação e assume gedan-kamae, enquanto que o seu neto se coloca em chudan-kamae e espera o movimento do seu oponente. Por um momento ficam os dois imóveis. Quando Matsumasa termina um primeiro movimento para diante, Sazaburo avança e com um kiai, atinge o men (cabeça) do avô. Nesse dia, o jovem tinha 15 anos.
Mitsumasa inventa ainda outros métodos de treino para Sazaburo. Leva-o até à borda de um rio, ata-lhe as pernas com um cordão e fá-lo combater assim. Uma outra vez, no Inverno, conduz Sazaburo e mais alguns uchideshi até ao mesmo rio. Diz-lhes que mergulhem, vestidos, na água gelada e depois obriga-os a treinar até que o calor que emana dos seus corpos seque as roupas que trazem vestidas.
Um rapaz de 17 anos, formado desse modo, não pode senão ter confiança em si próprio e, ao mesmo tempo, também um certo orgulho. É tudo isso que desaba quando é derrotado de uma maneira desonrosa por Okada. Já sabemos o que se seguiu. Voltemos então à vida de S. Takano depois do seu regresso ao dojo, onde sucedeu ao seu falecido avô.

THE ESTABLISHMENT OF KENDO: SAZABURO TAKANO’S YOUTH (VI)
We reach (at last?) the last article dedicated to the childhood and youth of Sazaburo Takano. It took a little more then I expected, but it’s done.
In order to know what’s next, here’s what you can do:
a – go to
http://www.tokitsu.com and practice your french;
b – wait for my next translation and post;

The invention of the training methods
Winter or summer, the first pratice of the day takes place from 4 to 6 A.M. It is after this practice that Mitsumasa swallows the raising sun. And just like that one, he invents other particular training methods for his grandson. On the floor of the 5,40 for 9 metters dojo, he pours some 36 liters of hard beans. Sazaburo puts on a pair of straw sandals and must train there. If he tries to move and attack his grandfather, he slips and falls, if he doesn’t move his shinai does not reach the opponent. Everytime he hesitates the grandfather’s shinai hits him without mercy. He hits him, makes him fall, throws him… it’s his way of showing how he loves his grandson.
S. Takano will say, much later:
“That kind of training helped me to develop my sense of balance. Thanks to that I never fall down, even if I’m wearing gheta (wood sandals) while walking over ice.” As a matter of fact, S. Takano was famous for his balance and his way of moving, and kept on doing it in an amazing way, even when he was over 80 years old.
In december 1988, I had the chance to meet Saburo Imaï sensei, kendo 8th dan, aged 64. He had been a student of Takano when he was almost 80. (From that meeting) I recall this phrase in particular: “In order to explain us how to move, Takano sensei used to tell us to do each step like if we were stepping on a baloon. If you apply to much weight only on one foot you can not walk over a baloon, right?” he said, evoking young Takano’s training with the beans.
One day, during practice, Mitsumasa gives his grandson a piece of black cloth and tells him: “Cover your eyes.”
Sazaburo obeys and after that puts on his protective mask. He can’t see a thing. The grandfather then says: “Spin around for a while.” He carries out the order and stops disoriented. In that moment he listens to a voice: “Come here. Come on.”
He assumes his kamae towards the voice, but it’s impossible to know where his adversary is. Sazaburo then tries to capture the smallest disturbance in the air as a sign of presence and closes his eyes under the black cloth, saying: “Anyway, he don’t see a thing, so…” That’s when Mitsumasa’s shinai touches the tip of his shinai. He attacks imediately but the shinai finds only the air in it’s path. Mitsumasa moves around Sazaburo without making a sound and suddenly hits the floor with the shinai. Sazaburo turns and attacks, but once again, hits nothing. This kind of training sharpens his perception. With time, although he never makes a hit, he manages to step into the direction of the opponent, distinguishing the small signs, like floor sounds and breathing, the movements in the air and so on.
One day, Mitsumasa also covers his eyes, and fights his grandson. Both search for the minimum sign of the other one’s presence. Sazaburo places himself back to the wall of the dojo. Mitsumasa follows the sound of his breathing and takes gedan-kamae, while the boy waits in chudan-kamae. During a brief instant they don’t move. When Mitsumasa finishes moving ahead, just barely, Sazaburo attacks and with a strong kiai hits his grandfather’s men (head). That day the young man was 15 years old.
Mitsumasa invents also other methods of training. He takes him to a river, ties his legs with a rope and forces him to fight that way. Another time, during winter, he takes Sazaburo and some uchideshi more to the river. There, he orders them to dive in the cold water with their clothes on and after that makes them practice until the warmth of the bodies dries the clothes they’re wearing.
A 17 years old boy, educated like that, can only have trust in himself and at the same time, a certain pride. That’s what crumbles down when he is defeated by Okada in such a disonorable way. We all know what happened after the fight. So lets go back to S. Takano’s life after his return to the dojo, once his grandfather die.


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