ou
Relato das desventuras em busca de um jodan-kamae mais eficaz.
Tame, tame – dizia-me o senhor Osaka – falta tame*.
Tudo o que pude responder-lhe foi acenar a cabeça num reconhecido desespero de causa. Eu sabia que ele tinha razão, só não percebia porquê.
É claro que por essa altura, no fim das pools e depois de ter sido “apurado” sem ter sequer marcado um único ponto, já me tinha apercebido, pelo menos, que algo não estava a funcionar. Mas o quê? O que é que não estava a funcionar?
Maai. A distância. Durante toda a minha participação neste torneio, falhei constantemente no meu obectivo de encontrar a distância ideal para combater.
E claro que se maai não está a funcionar, seme também não funciona e é muito pouco provável (impossível!) que tame exista sequer, quanto mais que funcione.
O mais frustrante é que tudo o que me aconteceu no Torneio de Lisboa 2007, aconteceu resultado, como sempre, das melhores intenções. Durante o Verão, fruto de algumas leituras e de alguns videos “peregrinos” tive uma epifânia. E partilhei-a com o sensei em busca de aprovação. E devo dizer que ele não colocou quaisquer reservas às minhas observações.
Então, a coisa é (deveria ser) mais ou menos assim: a posição clássica** de jodan-kamae diz-nos que a mão esquerda deve estar colocada a “um punho de distância” da testa.
Ora, certo sensei japonês, muito conhecido por utilizar frequentemente jodan-kamae e que ganhou três campeonatos do Japão combatendo dessa maneira, entre outras coisas, afirma que, em shiai, deve-se colocar a mão esquerda, não a um punho de distância, mas sim a dois punhos de distância da testa.
Objectivos práticos? A mão esquerda está mais próxima do adversário, logo tem de percorrer menos espaço para o atingir mas, ao mesmo tempo, apesar de estar mais próxima, tem “um punho a mais de distãncia para recolher” face a um eventual, e sempre esperado, ataque em age-gote por parte do oponente.
Digam lá, isto é o melhor de dois mundos ou isto é mesmo o melhor de dois mundos? Pois digo-vos eu, para quem combate em jodan É O MELHOR DE DOIS MUNDOS.
Agora, se tudo isso é realmente fácil de dizer, é mais fácil de dizer do que de fazer.
E maai? Em que é que ficamos quanto à distãncia do corpo? O novo posicionamento do meu braço esquerdo (muito mais “atrevido”) colocou-me imensos problemas em relação ao lugar que o tronco deve ocupar nesta nova equação.
Numa certa altura, um dos sempai dizia-me que eu estava, e passo a citar, “inclinado para a frente”. Ora quando se está, e só tenho de acreditar nas palavras dele, inclinado para a frente é muito difícil que a parte inferior do corpo, necessária para uma boa execução de qualquer katate-waza, tenha a mesma velocidade, a mesma capacidade arranque, que é como quem diz, a mesma eficácia.
Por outro lado, uma das coisas que o sensei Osaka me tinha dito, há uma data de tempo atrás, da última vez que me tinha visto combater em jodan-kamae, é que eu preciso de ter o shinai mais visível. Não tão para trás. Quanto mais presente estiver o shinai, no campo de visão do adversário, mais ameaçadora se torna a kamae e mais forte é o seme da mesma. Outra preocupação.
Em resumo, chegar aos quartos-de-final depois de um ano sem fazer shiai, diria, numa primeira análise, que não foi mau. Agora, chegar aos quartos-de-final sem marcar qualquer ippon, à custa de hansoku, foi mesmo fantástico...
Foi fantasticamente mau.
*ver post Maai, Hyoshi e Yomi 3 (Dezembro 2006);
**tal como se aprende em Nihon Kendo Kata Ipponme;
1.10.07
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