Quarta-feira, 24 de Outubro 2007
Sayu-migi-men.
Como diria um kendoka que conheci em tempos: "Sayu-migi-men it's a bitch."
É rara a pessoa que começa a fazer kendo e que faz sayu-migi-men como deve ser. Hidari tudo bem. É mais natural e não há necessidade de torcer os braços, mas quando se trata de cortar do lado direito da cabeça do motodachi durante o kirikaeshi, 85% (pelo menos) dos praticantes mais recentes executa um ângulo de corte mais fechado e muitas vezes (quase sempre) sem a torção do pulso direito, a que permitiria à eventual lâmina do tachi exercer a função natural para a qual foi concebida: cortar.
Os motivos para tal são os mais variados e vão desde a simples preguiça, passando pelo (mau) hábito, até ao cansaço. É que dá trabalho, torcer o pulso direito de cada vez que se executa sayu-migi-men. É anti-natural. É preciso pensar. Estar atento ao que se faz e como se faz... lá está, dá trabalho.
Na verdade, é uma das minhas grandes preocupações durante a prática do kirikaeshi. Ter a certeza que o ângulo de ataque (+ ou - 45º) é igual nos dois casos, migi-men e hidari-men. Eis o que ocupa a minha mente a cada kirikaeshi.
E, no entanto, ontem ocorreu-me, fruto de um incidente de percurso, uma ideia "peregrina", um pensamento que me ajudou a tirar algumas conclusões muito simples:
O shinai.
Se calhar tem a ver com o shinai. É que ontem, depois de um mês sem o utilizar, voltei a "afinar" o meu shinai habitual e a diferença de sensações não poderia ter sido maior.
A tsuka é mais fina do que a do shinai que tinha estado a utilizar durante o último mês, logo o te-no-uchi (o sentimento de pegar) é outro, o peso, e a distribuição do mesmo, é diferente... enfim, tudo era diferente.
E se nos últimos dias me tinha sentido bem a fazer kirikaeshi com um shinai velho, ontem, foi uma alegria. O meu corpo "reconheceu" o Hasegawa e a resposta não se fez esperar. Finalmente, seis meses passados desde a minha ida para África, oh felicidade suprema, aleluia e glória a Deus nas alturas, o meu kirikaeshi está de volta.
Se calhar, o pessoal devia preocupar-se em encontrar um shinai que lhes facilite o te-no-uchi.
Porque, como dizia o sensei Osaka no fim do treino, quando se faz kirikaeshi deve-se executar os sayu-men como se se quisesse desenhar um Xis na testa do adversário/motodachi; e para isso, deve-se fazer sempre um ângulo igual de cada lado (direito e esquerdo) da cabeça... um ângulo de 45º... mais ou menos.
Abayo.
Nota: mais uma vez recomendo vivamente a consulta do link:
http://www.youtube.com/watch?v=6QDLIYq200c onde poderão assisitir a um kirikaeshi bem feito. Há muitos outros links na mesma página para filmes com gente a fazer kirikaeshi. Muitos deles, no entanto, são uma bela merda. Para verem um kirikaeshi feito nas calmas, bem definido, grande... comme il faut, vejam o link acima.