30.9.05

TORNEIO DE LISBOA, AMANHÃ.

Ora bem, este post é apenas para lembrar que a segunda manga do Campeonato Nacional de Kendo tem lugar já amanhã, sábado 1 de Outubro de 2005, no Pavilhão da Esc. Sec. Alfredo dos Reis Silveira, na Arrantela (fica na outra banda, ali prós lados de Corroios).

O horário deverá ser o seguinte:
12h30 - 13h30 - Shinai Check;
13h45 - Cerimónia de abertura;
14h00 - Início do Torneio;

18h30 - Entrega de prémios e encerramento;

Vou estar na equipa de arbitragem desta vez, o que quer dizer que não vou ter o prazer de cruzar shinais com os competidores; paciência, encontramo-nos em Coimbra.

Lembrem-se que o que importa é:
Vencer antes de marcar ippon e não marcar ippon para vencer.

A todos os participantes desejo as melhores felicidades e sobretudo que tenham um bom keiko.

22.9.05

MAIS KITAMOTO AINDA



Nesta eu (como se pode ver pelo nome escrito no Tare) estou a fazer shiai durante as aulas de arbitragem. O tipo de braços cruzados, "entre" eu e o meu adversário, não é outro senão o nosso emérito Presidente da Associação Portuguesa de Kendo, o excelentíssimo Senhor Doutor Nuno Serrano.

MAIS KITAMOTO


Como se pode ver, claramente aliás, pelo nome escrito no TARE, lá estou eu em Kitamoto.
Eh pá, não é vaidade; é que eu adorei tanto a experiência que às vezes até me custa a acreditar que aconteceu mesmo. E as fotos ajudam a acreditar. É só isso.
Nota: Acho que clicando na foto ela aumenta
Nota 2: Esta foto foi retirada de http://www.isenokami.com/Kendo/kitamoto2005/KITAMOTO2.html .

8.9.05

BOKUTO NI YORU KENDO KIHON-WAZA KEIKO-HO 3

Mas o que é que têm essas técnicas de tão especial? Perguntarão os (poucos) que acompanham estas minhas, e cada vez menos frequentes, escritas.
A verdade é que o Bokuto Waza (BW), chamemos-lhe assim, permite ter uma maior e mais profunda, "consciência" do funcionamento da espada. O BW foi criado, segundo reza a história, com o objectivo de dar às gerações de kendokas mais novas, cada vez mais absorvidas pela componente desportiva do shinai kendo, uma perspectiva quase que histórica*, que em última análise se reflectirá numa utilização mais correcta do shinai.
Resumindo, é a necessidade de conhecer do passado com vista a melhorar o futuro.
Funciona? Não sei o que lhes dirão os outros. Eu, ao fim de apenas oito dias, senti uma diferença brutal na maneira como o meu shinai kendo funciona, ou melhor, como deveria funcionar, porque não é fácil.

* Ousaria dizer que foi o mais próximo do kenjutsu que alguma vez me senti.

Voltaremos ao assunto.

6.9.05

BOKUTO NI YORU KENDO KIHON-WAZA KEIKO-HO 2

Tal como tinha prometido, cá estamos de novo a falar da "Prática das técnicas fundamentais de Kendo com utilização de Bokuto."
Então e quais são essas técnicas? Pois cá estão elas:

Kihon Ichi: Ippon-uchi no waza - Men, Kote, Do, Tsuki.
Kihon Ni: Ni/Sandan no waza - Kote Men.
Kinon San: Harai waza - Harai Men.
Kihon Yon: Hiki waza - Men Tsubazeriai kara no Hiki Do.

Kinon Go: Nuki waza - Men, Nuki Do.
Kihon Roku: Suriage waza - Kote, Suriage Men.
Kihon Shichi: Debana waza - Debana kote.

Kihon Hachi: Kaeshi waza - Men, Kaeshi Migi-Do.
Kihon Kyu: Uchiotoshi waza - Do, uchiotoshi Men.

Ao praticante que executa as técnicas dá-se o nome de kakarité, ao outro, o que recebe, dá-se a designação de motodachi.
Fazendo a "equivalência" para kendo kata, kakarité seria shidachi e motodachi seria uchidachi*.

Voltaremos.


*Que o mesmo é dizer que motodachi acaba sempre morto, ou com uns cortes a mais, do que quando começou.

23.8.05

KITAMOTO 2

http://www.isenokami.com/Kendo/kitamoto2005/KITAMOTO2.html
Neste link, aqui mesmo acima, poderá encontrar centenas de fotos do estágio de Kitamoto 2005. E quando digo "centenas" não é força de expressão. São exactamente 830 fotos (creio que) da autoria de Uemura sensei.

17.8.05

ROOM 306



Os ocupantes do quarto 306 posam com o director do seminário Kitamoto 2005. Notar a ausência do louco guatemalteco que respondia pelo nome de Pedro e que se encontrava em parte incerta no momento da foto.

10.8.05

KITAMOTO 1

(Esq. p/ dir.:)
Tanaka sensei, nanadan; Don António, rokudan;
Sumi sensei, hachidan hanshi; eu; Shimojima sensei,
hachidan kyoshi; Fujimaki sensei, hachidan e maus-fígados.

Eu e Shimojima sensei,
hachidan kyoshi e responsável pela arbitragem.

9.8.05

LEMBRANÇA

É sempre bom recordar que, caso achem que caixa de comentário não é maneira de falar com as pessoas e queiram enviar um e-mail, o meu endereço é IMDRabbit@hotmail.com.

8.8.05

BOKUTO NI YORU KENDO KIHON-WAZA KEIKO-HO

Que é como quem diz:
"Prática das técnicas fundamentais de Kendo com utilização de Bokuto."
A minha grande surpresa durante os oito dias em Kitamoto. Muito útil. Os rapazes (da ZNKR) de facto, não dão ponto sem nó, como se costuma dizer.
Nove "kata", chamemos-lhes assim, destinados a recuperar o conceito original de "como cortar" utilizando uma espada japonesa.
A katana ensinada aos novos e lembrada aos velhos. Onde é que eu já ouvi isto?
Mais sobre o assunto em breve.

7.8.05

POIS JÁ LÁ VAI.

É ainda com um "jet-lag" desgraçado que escrevo estas primeiras impressões sobre o 30º seminário para kendokas estrangeiros de Kitamoto. Que vos posso eu dizer meus amigos? A única palavra que me ocorre começa com a letra "f" e acaba com as letras "se", mas suponho que num blog sério como este, nunca jamais, em tempo algum, se escreverá por extenso, seja em que situação for, a palavra "foda-se".
E no entanto é, assim mesmo, essa mesma palavra a mais adequada para descrever o que se passou nos intensos oito dias do estágio que se desenrolou nessa parte do subúrbio adormecido, dormente e escaldante ao norte da imensa Toquio.
Isto está tudo muito confuso. Eu volto amanhã, quem sabe (?), já com fotografias.

11.7.05

MEMÓRIA INESQUECÍVEL DO ANO QUE PASSOU (2).

Então, à minha direita, Ito Sensei hachidan hanchi; à esquerda Kou sensei hachidan kyoshi e à esquerda dele Yamagushi sensei nanadan; em baixo, da esquerda para a direita Okada sensei hachidan kyoshi, Igarashi e Toshino senseis, ambos nanadan. À esquerda, em pé, Kawabata sensei rokudan e tradutor oficial do grupo. E eu.

MEMÓRIA INESQUECÍVEL DO ANO QUE PASSOU.

4.7.05

KITAMOTO BABY, KITAMOTO

Pois é, meus amigos, estou lá. Está confirmado. Estou oficialmente inscrito.
De 27 de Julho a 3 de Agosto, eu, e mais o nosso ilustre doutor Nuno Serrano, estaremos presentes, assim corra tudo bem, no 30th Foreign Kendo Leaders’Summer Seminar 2005.
Oito dias de kendo kata, kendo keiko, kendo shiai, kendo shimpan, kendo, kendo e mais kendo e kendo e kendo.
A começar às 6 e meia da matina e a acabar todos os dias às 8 e meia da tarde.
Iiiaaah.

1.5.05

O FIM

Por agora, chega.
Vemo-nos num dojo qualquer, um dia destes.
Bom keiko.

O FIM DE UM CICLO

Acabou.
Por um lado, estou muito contente por ter conseguido terminar as traduções até ao ponto que me tinha proposto; por outro, não posso deixar de sentir uma certa frustração em relação à resposta que esse trabalho todo teve por parte dos leitores.
Eu sei que não consegui fazer todo o trabalho como me tinha proposto. Os últimos posts já não contaram com um segunda tradução em língua inglesa. E, como se isso não bastasse, ainda fiquei com pouca ou nenhuma paciência para traduzir o que quer que seja, tanto que o blog deixou de ser bilingue.
Bom, mais que não seja, permitiu-me aprender mais umas coisas sobre o kendo e tudo o que o antecedeu. Na verdade, deu-me uma vontade imensa de aprender kenjutsu. Não, iaido não.
Kenjutsu. Exacto, assim como... uma espécie de antropologia do kendo.
Kenjutsu... hum...

29.4.05

OS ÚLTIMOS COMBATES DE S. TAKANO E T. NAÎTO

Chegamos aqui ao fim da primeira parte das traduções que me propus fazer. Espero que tenham gostado.
O site do sensei Kenji Tokitsu
(
http://www.tokitsu.com), que amavelmente me cedeu estes textos sem pedir nada em troca, dispõe de muitos mais, não só sobre kendo, mas também relacionados com outros assuntos do mundo do budo.
Se conseguir ganhar coragem talvez tente traduzir mais umas coisas interessantes.
Para já, vou parar um bocadinho.
Treinem mais, melhor e sobretudo, divirtam-se quando o fizerem.
Obrigado pela atenção.

Por altura do ano 1900, os dois adeptos Takano e Naîto estão entre os dez maiores mestres de kendo do Japão. Quando as suas reputações começam a ecoar no mundo do kendo japonês, uma questão surge naturalmente: “Se eles combaterem quem ganhará? No espírito dos dois praticantes o outro está sempre presente e essa consciência aguça-se junto das respectivas comitivas.
No mês de Maio de 1901, por ocasião do sexto torneio do Butoku-kaî, os dois rivais reencontram-se de novo. Eis aqui o relato do combate tal como está preservado no "Kendo-sangoku-shi":
“Têm ambos 40 anos e estão no pleno de força e de espírito. O encontro é digno de representar o mais alto nível do kendo japonês. O juíz principal é Kanichiro Mihashi. Takano usa um do (plastrão) vermelho e o de Naîto é negro, o contraste é marcante. Uma calma profunda enche o Butokuden. Takano assume a guarda em seigan (média) e Naîto em gedan (baixa).
"Eéé...!!", Takano lança um kiai enquanto que Naîto permanecendo mudo levanta, pouco a pouco, a ponta do shinai. Takano recua o seu pé esquerdo de um passo. Os espectadores retêm a respiração ao contemplar o combate.
O ki dos dois mestres choca-se no espaço em faíscas invisíveis. Cada um procura captar com o seu espírito, aquilo que oculta o do outro. Por instantes o shinai de Takano agita-se. "Eyaa !!", no instante que vai atacar o men (cabeça) do seu adversário, Naîto lança o seu shinai como um relâmpago para atingir o kote (pulso) de Takano e marca o primeiro “ippon” (um ponto).
No segundo combate Takano assume jodan (guarda alta), enquanto Naîto opta por seigan (guarda média). Durante um momento permanecem imóveis e a tensão prende os espectadores.
"Tôo !!", Naîto atira-se com um violento tsuki (ataque à garganta) mas Takano girando o seu corpo para a direita ataca diagonalmente o men (yoko-men) de Naîto. O juíz levanta a mão e anuncia o ippon de Takano...”
No decurso desse encontro, nem um nem outro ganha o terceiro combate e separam-se sem que haja vencedor ou vencido. Os dois rivais vão-se ainda encontrar várias vezes ao longo da vida, mas nem um nem outro conseguirá obter uma vitória definitiva. Ambos contribuiram de modo importante na constituição do kendo no Japão, mantendo-se sempre críticos para com a tendência do kendo para se afastar cada vez mais do espírito da espada dos samurais.
T. Naîto sobretudo, mesmo na sua vida privada, comportava-se tendo como referência o modelo do “bushi”. Por exemplo, proibia os seus alunos de despejar saké rodando a garrafa para o exterior (com a palma da mão para cima), pois essa maneira de despejar está reservada para molhar o sabre no momento de cortar a cabeça, quando se ajuda um samurai a fazer seppuku. Proibia todas as roupas que tivessem de se vestir por sobre a cabeça, pois quando cobrimos a cabeça, criamos um momento vulnerável. No Japão é normal que um discípulo ou um aluno carregue as bagagens do mestre, mas ele nunca permitiu que carregassem o seu shinai ou o kendogu, pois são assuntos pessoais de um bushi que nunca se deve separar da sua arma... vivendo assim como um samurai, a sua vida material era simples, pobre até. (…) Acabou a sua vida sem nunca ter possuído casa própria. O saké parece ter sido o seu melhor companheiro. Depois de cada treino de manhã, à tarde e à noite, bebia grandes quantidades de saké, o que deve ter contribuido para encurtar a sua vida.
Foi em 1928 que T. Naîto e S. Takano efectuaram o seu último combate, aquele que já analisámos em artigos precedentes. Em 1929, é decidida a organização de um torneio com a presença do Imperador. Naîto opõe-se até ao último momento, pois essa decisão surge como uma ordem vinda do próprio Imperador. Diante dos que lhe anunciam a ordem do soberano, Naîto inclina-se profundamente dizendo: “Não posso senão aceitar se essa decisão é ordem de Sua Magestade.”
Ao voltar a Quioto, porém, queixa-se: “É assim que o kendo do Japão vai morrer.” Ele desejava que o kendo permanecesse fora da alçada imperial, pois a presença do Imperador conferia uma consciência honorária irremediável que se arriscava a provocar vaidade no kendo. Ia-se tentar ganhar em vez de aprofundar a qualidade da prática. Para T. Naîto, um torneio não era senão uma ocasião para treinar, onde importava mais a qualidade da prática do que a vitória. A ironia do destino fez com que Naîto fosse nomeado presidente dos árbitros para esse torneio. Mas, na véspera do evento, acabou por escapar a esse papel que o contrariava. Uma morte súbita levou-o. Tinha 68 anos.
S. Takano viveria até 1950. A sua vida, longa de 89 anos foi consagrada à espada e deixou marcas incontornáveis no kendo japonês. Os seus últimos alunos têm hoje à volta de 70 anos e desempenham um papel decisivo no kendo actual. Takano continuou a ensinar na Escola Normal Superior mesmo depois dos 80 anos. Gostava de falar e falava bem. Escutemos um dos seus alunos: “Ele mostrou-nos as suas mãos que pareciam patas de urso. A pele das costas da mão era espessa e dura como a de um hipópotamo. Ele dizia: “Toque na palma da minha mão. Não é suave e macia como a pele de uma virgem? Se têm bolhas ou calos na palma da mão, isso deve-se a uma falta de precisão na maneira como seguram o shinai. É preciso segurar-lhe sem que a palma da mão endureça.” Esse era o seu ensinamento.”

28.4.05

BUDO SENMON GAKKÔ – A ESCOLA ESPECIAL DE BUDO

Mais uma simpática descrição do tipo de treinos que eles faziam na altura.
Obrigado
http://www.tokitsu.com por tão gráfica elucidação.

Em 1902, em ligação com o Butoku-kaî, é formada o Instituto de Formação de Professor de Budo. A partir dessa experiência a “Escola Especial de Budo” é constituída em 1912. A duração do curso era, a princípio, de 3 anos, depois passou para 4. Aí, ensinava-se principalmente o kendo e o judo, de uma maneira particularmente dura. Eis o testemunho de H. Hiromitsu, estudante dessa época:
“Os ferimentos eram bastantes entre os estudantes. Muito renunciaram ao curso devido à sua dureza e alguns dos meus amigos morreram mesmo. Era frequente que os colegas vomitassem através da grade da máscara de protecção, próximo do poço. Como transpirávamos muito, urinávamos pouco, mas com sangue à mistura. Um dia, o meu tio foi assistir ao treino. Nunca esquecerei que me disse: “Volta comigo para casa. Não poderás sobreviver aqui, mesmo que tenhas várias vidas.” Então pedi-lhe que não dissesse nada, sobretudo à minha mãe que morria de inquetação por mim.”
O princípio dessa escola era aprender sem palavras, segundo a orientação que Naîto e os outros mestres tinham adoptado. Essa atitude de ensino contrasta com o de Takano, que dava vastas explicações no decurso dos seus treinos. E essa diferença reflectiu-se na prática das escolas de Este e Oeste.
J. Furusé testemunha: “Chegávamos a um limite onde não conseguíamos fazer nada. Mas nesse estado de “quase-morte” era nossa obrigação descobrir força através do kiai e apoiarmo-nos solidamente no chão para continuar a combater. Essa experiência de investir a própria vida no treino é inesquecível. Ela ajudou-me mais tarde em diferentes fases da minha vida. Devo agradecimentos por esse tipo de treino.”
Através dos testemunhos dos alunos podemos adivinhar a experiência que deve ter sido a juventude de Naîto. Ao rumo principal da Escola Especial de Budo decidido por T. Naîto, juntavam-se por vezes outras iniciativas do director da escola. Em 1918, H. Nishikubo torna-se director e tem por hábito assistir aos treinos dos alunos. É costume efectuar durante o período mais frio do ano uma série de treinos chamados "kan-géiko". No célebre frio de inverno de Kyoto todas as janelas do dojo são abertas de par em par. O primeiro treino começa às cinco da manhã.
Para esses treinos o director Nishikubo chega todos os dias com as suas “roupas especiais” de treino; especiais porque ele as mergulha na água e deixa-as na rua de um dia para o outro, o que faz que estejam duras e geladas. O seu corpo grande e redondo de lutador de sumô, vestido com as roupas geladas, cedo começa a soltar vapor de água durante o treino.
S. Takano também tinha feito esse tipo de treino na sua juventude. Ele dizia aos seus estudantes que tiritavam de frio durante os kan-géiko: “Quando eu era novo, nós faziamos treinos de inverno depois de ter mergulhado a roupa de treino na água e continuávamos a treinar até que ela secasse.”
Em todo o caso, a busca para ultrapassar as dificuldades era comum a todas as artes marciais japonesas, seja no Este ou no Oeste. Porque faziam eles isso? Era necessário? Acontece qualificarmos de masoquismo ou de sadismo a atitude ascética na prática do budo, quando os actos começam a separar-se do seu objectivo. É, sem dúvida, um problema sobre o qual é necessário reflectir quando praticamos artes marciais na nossa vida actual.

27.4.05

RIVAIS DE TODA UMA VIDA

Apenas uma palavra de agradecimento, como sempre, a http://www.tokitsu.com.

Sazaburo Takano e Takaharu Naîto nasceram no mesmo ano, 1862, ambos filhos de bushi (samurai), as suas proezas desenrolam-se na vizinhança da prefeitura de polícia de Tóquio.
Na situação social que acabamos de descrever, em 1896, Takano volta para Tóquio e funda aí o dojo "Meishin-kan" onde se dedica à formação de jovens praticantes. Um pouco mais tarde, em 1899, Naîto instala-se em Quioto, onde se torna num dos principais mestres do Butoku-kaî.
Naîto tinha uma posição importante na prefeitura. O que o faz deixar Tóquio é, diz-se, um telegrama enviado por M. Kusunoki, um dos fundadores do Butokukai: “Venha pela (causa da) via.” Esta pequena frase toca o coração de Naîto que parte imediatamente para Quioto. Satisfaz assim o desejo de Kanichiro Mihashi, perito de renome na arte dos dois sabres, cognominado “Musashi contemporâneo” que, envelhecendo, desejava tê-lo como discípulo.
É assim que os dois rivais se instalam, um em Tóquio e outro em Quioto, dando forma às correntes de Este e Oeste que se irão defrontar durante os 30 anos que se seguiram. Em 1901, J. Kano, fundador do judo, que era também director da Escola Normal Superior de Tóquio, convida Takano a assumir o papel de mestre de kendo nessa escola. Relembremos que o termo “kendo” foi usado pela primeira vez num texto oficial, num decreto-lei de 1891, relativo à educação física escolar, quando o kendo foi integrado no curriculum liceal. Mas nessa época, eram ainda os termos kenjutsu e gekiken os mais utilizados pelos praticantes. Anteriormente, nos anos 1880, julga-se que Yamaoka Tesshu, já terá utilizado a palavra “kendo” ao fundar a sua escola “Muto-ryu”, sintetizada pela famosa frase: “a espada não existe fora do espírito” (shin-gai-mutô). A denominação kendo estabiliza-se por volta dos anos de 1910, definindo-se através da noção de via (do) em vez da de técnica (jutsu). A diferença não é apenas de palavras, mas na ideia directora da prática do kenjutsu e do kendo. Para ser um pouco mais rigoroso, é mais correcto não utilizar a palavra kendo para designar a prática da espada de antes do fim do século XIX. Em todo o caso, S. Takano torna-se mestre de “kendo” de uma Escola Superior, ao mesmo tempo que dirige o seu próprio dojo.
Enquanto a actividade de Takano ganha cada vez maior envergadura na zona de Tóquio, Naîto desenvolve a sua na área de Quioto. Paralelamente ás suas funções como mestre do Butoku-kaî, quando a “Escola Especial de Budo” (Budo senmon gakkô) é constituida na antiga capital, ele torna-se o seu mestre director.

26.4.05

DAI-NIPPON-BUTOKU-KAÎ: A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO KENDO (II)

Antes de voltarmos aos nossos dois amigos, Takano e Naîto, para mais uns combatezitos, eis a segunda parte do contexto histórico em que eles se moviam nessa época. Mais em http://www.tokitsu.com.

Para preparar a guerra contra a Rússia, o Japão envia oficiais para estudarem a cultura e a sociedade russas. Alguns estão encarregados de entrar em contacto com os elementos revolucionários que se dedicam a actividades clandestinas contra o poder do Czar e de lhes fornecer apoio financeiro. O Japão investiu um orçamento considerável na preparação e execução dessa guerra e, quando obtém a vitória em 1904, está à beira da bancarrota.

As artes marciais modernas são, por certo, pouco eficazes na guerra moderna, mas mostraram uma grande eficiência para forjar os homens que se envolvem nos diversos domínios da mesma, particularmente no exército. Não convém confundir a noção de do (a via) tal como a concebemos hoje com a que foi formulada nessa época. O Japão acabara de escapar à colonização a que tinham sido submetidos outros países asiáticos, mas a ameaça das forças ocidentais estava sempre presente. A prática do budo, nessas condições, servia para afirmar a identidade japonesa e reforçar a vontade pessoal dentro de uma acção nacional que se confundia com a vocação de cada um. A ética do budo dessa época comporta um investimento da própria vida no objectivo colectivo; é isso que indica Jigoro Kano quando diz: “transformem-se nos pilares do país”, nas aulas que dá aos seus primeiros alunos, aquando da fundação do judo. O dever pessoal e o interesse de estado confundiam-se completamente. É com este pano de fundo social que é elaborada a nova noção de artes marciais, que se apoia na noção de do. E ela começa a partir do judo.
O Butoku-kaî foi fundado nessa atmosfera para centralizar e dirigir a formação e o desenvolvimento do budo. O kenjutsu está no centro das suas actividades. A fundação do Butoku-kaî é uma reviravolta na situação das artes marciais que, apenas vinte anos antes, a sociedade inteira tendia a enterrar. A prática das artes marciais no começo do século XX tornava-se, de novo, num elemento motor da consciência japonesa que começava a estender-se, quebrando a casca do feudalismo.