28.4.05

BUDO SENMON GAKKÔ – A ESCOLA ESPECIAL DE BUDO

Mais uma simpática descrição do tipo de treinos que eles faziam na altura.
Obrigado
http://www.tokitsu.com por tão gráfica elucidação.

Em 1902, em ligação com o Butoku-kaî, é formada o Instituto de Formação de Professor de Budo. A partir dessa experiência a “Escola Especial de Budo” é constituída em 1912. A duração do curso era, a princípio, de 3 anos, depois passou para 4. Aí, ensinava-se principalmente o kendo e o judo, de uma maneira particularmente dura. Eis o testemunho de H. Hiromitsu, estudante dessa época:
“Os ferimentos eram bastantes entre os estudantes. Muito renunciaram ao curso devido à sua dureza e alguns dos meus amigos morreram mesmo. Era frequente que os colegas vomitassem através da grade da máscara de protecção, próximo do poço. Como transpirávamos muito, urinávamos pouco, mas com sangue à mistura. Um dia, o meu tio foi assistir ao treino. Nunca esquecerei que me disse: “Volta comigo para casa. Não poderás sobreviver aqui, mesmo que tenhas várias vidas.” Então pedi-lhe que não dissesse nada, sobretudo à minha mãe que morria de inquetação por mim.”
O princípio dessa escola era aprender sem palavras, segundo a orientação que Naîto e os outros mestres tinham adoptado. Essa atitude de ensino contrasta com o de Takano, que dava vastas explicações no decurso dos seus treinos. E essa diferença reflectiu-se na prática das escolas de Este e Oeste.
J. Furusé testemunha: “Chegávamos a um limite onde não conseguíamos fazer nada. Mas nesse estado de “quase-morte” era nossa obrigação descobrir força através do kiai e apoiarmo-nos solidamente no chão para continuar a combater. Essa experiência de investir a própria vida no treino é inesquecível. Ela ajudou-me mais tarde em diferentes fases da minha vida. Devo agradecimentos por esse tipo de treino.”
Através dos testemunhos dos alunos podemos adivinhar a experiência que deve ter sido a juventude de Naîto. Ao rumo principal da Escola Especial de Budo decidido por T. Naîto, juntavam-se por vezes outras iniciativas do director da escola. Em 1918, H. Nishikubo torna-se director e tem por hábito assistir aos treinos dos alunos. É costume efectuar durante o período mais frio do ano uma série de treinos chamados "kan-géiko". No célebre frio de inverno de Kyoto todas as janelas do dojo são abertas de par em par. O primeiro treino começa às cinco da manhã.
Para esses treinos o director Nishikubo chega todos os dias com as suas “roupas especiais” de treino; especiais porque ele as mergulha na água e deixa-as na rua de um dia para o outro, o que faz que estejam duras e geladas. O seu corpo grande e redondo de lutador de sumô, vestido com as roupas geladas, cedo começa a soltar vapor de água durante o treino.
S. Takano também tinha feito esse tipo de treino na sua juventude. Ele dizia aos seus estudantes que tiritavam de frio durante os kan-géiko: “Quando eu era novo, nós faziamos treinos de inverno depois de ter mergulhado a roupa de treino na água e continuávamos a treinar até que ela secasse.”
Em todo o caso, a busca para ultrapassar as dificuldades era comum a todas as artes marciais japonesas, seja no Este ou no Oeste. Porque faziam eles isso? Era necessário? Acontece qualificarmos de masoquismo ou de sadismo a atitude ascética na prática do budo, quando os actos começam a separar-se do seu objectivo. É, sem dúvida, um problema sobre o qual é necessário reflectir quando praticamos artes marciais na nossa vida actual.

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