27.1.05

A FORMAÇÃO DO KENDO: A JUVENTUDE DE SAZABURO TAKANO (II)

Já nem é preciso dizer porquê: http://www.tokitsu.com.

Sazaburo Takano e Takaharu Naîto.
Ainda muito jovem, S. Takano foi vencido de maneira humilhante por J. Okada que o atingiu com terríveis golpes de shinai na garganta. Esse combate marcou uma reviravolta na sua vida. Foi em 1879, aquando de um torneio regional no templo de Yôunji (aldeia de Kamamura, Kodama-gun, no município de Saitama). S. Takano tinha 17 anos e apelidavam-no de “Chichibu no kotengu” (pequeno deus marcial de Chichibu). Chichibu é o lugar de nascimento de Sazaburo Takano e onde o dojo do seu avõ se situava.
S. Takano contava como tinha partido feliz para esse torneio, quando o seu avô tal lhe propôs. O seu adversário era Jogoro Okada. Nascido a 9 de Junho de 1849 em Anaka, Jogoro tinha estudado na escola de sabre Araki-ryu (ou Mujinsaî-ryu) sob a direcção de Négishi Matsurei, mestre do senhor de Anaka, que fundaria mais tarde a escola Négishi-ryu da arte de shuri-ken. Depois disso, tinha estudado em Edo na escola Hokushin-itto-ryu, dirigida nessa altura por Chiba Michisaburo, o terceiro filho de Shusaku Chiba. De volta para Anaka, com a idade de 19 anos, tornou-se no principal assistente de Négishi Matsurei. Quando combateu com Takano tinha 30 anos.
A técnica favorita de S. Takano era assumir jodan kamae, mas segurar o shinai apenas com uma mão (katate-jodan). Contra Okada, ele assumiu essa mesma guarda segurando um shinai longo, com 4,5 shaku de comprimento (1,35 m). Nem pediu desculpa por assumir essa guarda contra Okada, que se sentiu picado no seu orgulho. Eis o relato de S. Takano dos acontecimentos:
“Assumi a guarda de kataté-jodan segurando o shinai apenas com uma mão, acima da minha cabeça, e acertei três ou quatro golpes. O meu adversário, sem dúvida vexado por eu ter assumido a guarda jodan, não se declarou vencido, mesmo quando os meus golpes o atingiam. Quando eu atacava, ele afastava o meu shinai e lançava um tsuki à parte de cima do meu do (parte da protecção que defende o tronco do kendoka) e fazia deslizar por debaixo da minha protecção da garganta (tsuki-dare) a ponta do seu shinai, a qual era particularmente fina. Veja, esta é a cicatriz da ferida (ele mostra a cicatriz) que resultou desse combate. O seu ataque era muito violento. Okada era denominado “Oni-Okada” (Okada, o demónio). O sangue corre agora da minha garganta e suja o meu hakama branco. Quero vingar-me mas não o consigo fazer, faltam-me forças. Cada vez que bato nas suas protecções ele nem sente os meus golpes e insiste em trespassar-me a garganta. Os espectadores estavam cheios de pena de mim, pois eu não era mais que um garoto. Um grande número de pessoas na assistência levanta-se e pede que se separem os combatentes.
Quanto a mim, tentava trespassar os olhos do meu adversário com o shinai, cuja ponta estava já partida e as ripas de bambú, por um acaso, desligadas umas das outras. Mas as ripas atingiam a grade de ferro da máscara de protecção facial com um ruído seco e era impossível de enfiá-las para o interior da mesma. Acabaram por nos separar.
Saí da região e deixei uma carta aos alunos do dojo para entregarem à minha família informando-os da minha decisão. Diante do meu avô e da minha mãe, sentia vergonha por ter perdido dessa maneira desonrosa. Escrevi que voltaria quando fosse capaz de me vingar, depois de ter aprofundado a minha arte. A minha mãe e os outros quiseram ir buscar-me de volta, mas o meu avô opôs-se dizendo: “Deixem-no ir, é normal que um rapaz que deseja tornar-se num homem de espada tenha uma tal determinação.””
Esta descrição é reveladora da atitude e do espírito com que se praticava o kenjutsu no fim do século XIX. Recém-chegado a Tóquio, sem dúvida pela reputação do avô, Sakichiro-Mitsumasa Takano, adepto famoso da escola Nakanishi-ha Itto-ryu, S. Takano é recebido no dojo Shuseî-kan que Tomonori Shibata acabara de abrir em Yotsuya. No mesmo ano, em 1879, a prática de Gekiken torna-se obrigatória para todos os polícias e T. Shibata é nomeado professor de Gekiken na Prefeitura de Polícia. Shibata era o 16º sucessor da escola Kurama-ryu e tinha também frequentado a escola Onoha-Itto-ryu.
Ao longo da conversa com Tomonori Shibata, S. Takano explica-lhe a razão da sua vinda. Diz-lhe: “Quero recomeçar o treino para me poder vingar. Qual é o dojo com o treino é mais severo, em Tóquio?” (Shibata responde-lhe): “É o dojo do mestre Yamaoka.”
Ao olhar para a armadura que S. Takano trazia consigo, da qual o men e os kote eram bem mais pequenos que os da sua armadura, T. Shibata diz-lhe: “As suas protecções são muito pequenas para serem úteis no dojo Yamaoka. Leve umas do meu dojo.”
É assim que S. Takano se apresenta no dojo de Yamaoka Tesshu em Abril de 1879.


THE ESTABLISHMENT OF KENDO: SAZABURO TAKANO’S YOUTH (II)

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Sazaburo Takano e Takaharu Naîto.
S. Takano was very young when he was beaten in combat, in an humiliating way, by J. Okada, who “tsukied” him with terrible shinai thrusts to the throat. That combat changed his life forever. It took place in 1879, during a regional tournament in Yôunji’s temple (village of Kamamura, Kodama-gun, in Saitama). S. Takano was 17 years old and was called “Chichibu no kotengu” (Chichibu’s small martial god) Chichibu is Sazaburo Takano’s birthplace and also where his grandfather’s dojo was built.
S. Takano used to tell how happy he was when he left to the tournament, after his grandfather ask him to do so. His adversary was Jogoro Okada. Born June 9th 1849, in Anaka, Jogoro studied in the Araki-Ryu (or Mujinsaî-ryu) sword school under the supervision of Négishi Matsurei, Lord Anaka’s sword master; Matsurei was later to create the Négishi-ryu school of shuri-ken. After that, Okada studied in Edo, in the Hokushin-itto-ryu school, when it was run by Chiba Michisaburo, the third son of Shusaku Chiba. He went back to Anaka, at the age of 19 and became Négishi Matsurei’s main assistant. He was 30 by the time he fought Takano.
S. Takano’s favotite technique was to assume jodan kamae, but holding the shinai with one hand only (katate-jodan). Against Okada he assumed that same stance holding a 4.5 shaku (1,35 m) long shinai. He didn’t even appologised for assuming jodan against Okada who felt hurt in his pride. Here’s Takano’s tale of the events:
“I assumed the kataté-jodan stance holding the shinai with only one hand, above my head, and I hit him three or four times. My adversary, without a doubt mad that I had assumed the jodan stance, didn’t gave up, even when my strikes kept hit him. As I kept attacking, he would diverge my shinai and launch tsuki thrusts against the top of my do (torso protector) and made his sharp shinai’s tip slip under my troat protector (tsuki-dare). Look, this is the scar (shows the scar) from that fight. His attack was really violent. Okada was known as “Oni-Okada” (Okada, the demon). The blood now pours from my throat and onto my white hakama. I want revenge but I can’t do it, I feel weak. Each time I hit his protections, it’s like he doesn’t feel my strikes, and insists on stabbing my throat. The spectators felt sorry for me, because I was just a small boy. A great number of them rose and ask the fight to be stopped and the challengers to be set apart.
Meanwhile, I was trying to peirce my adversary’s eyes with my shinai that, the tip of it being already broken, had its bambu slats disconnected from one another. But the wood strips hit the framewrok of his protecting mask with a short sound and it was impossible to get them to pass through. Then they just separated us.
I left the region and left a letter to the dojo students to be delivered to my family, informing them of my decision. I felt shame before my grand father and my mother, for having lost in such a dishonored way. I wrote that I would be back once I’d be prepared to take revenge, after having improved my sword skills. My mother and the others wanted to get me back home, but my grandfather opposed by saying: “Let him go, it’s just natural that a boy who wants to become a swordman shows such determination.””
This description reveals a lot about the attitude and the spirit with which kenjutsu was practised by the end of the XIX century. Newly arrived in Tokyo, and surely thanks to his grandfather’s reputation (after all, Sakichiro-Mitsumasa Takano was a famous Nakanishi-ha Itto-ryu school adept), S. Takano is cordially received at the Shuseî-kan dojo, which Tomonori Shibata just opened in Yotsuya. That same year, 1879, the practise of Gekiken becomes compulsory to all police officers and T. Shibata is selected to teach Gekiken at the police headquarters. Shibata was the 16th successor of the Kurama-ryu school and had also attended at Onoha-Itto-ryu school. Throughout his conversation with Tomonori Shibata, S. Takano explains the reasons of his coming to Tokyo. He says: “I want to start training so that I can have my revenge. Which is the toughest dojo in Tokyo?” (Shibata answers): “It’s master Yamaoka’s.”
Then he looks at the protection gear Takano brought with him, compares the sizes of the men and the kote with his owns, and says: “Your protections are too small to be usefull in Yamaoka’s dojo. Take some bigger ones from my dojo.”
That’s how S. Takano presented himself in Yamaoka Tesshu’s dojo in April 1879.

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