29.10.05

A ESCOLHA 2

Para todos. Brancos e pretos, novos e velhos, homens e mulheres. Todos.

Entre a percentagem mínima daqueles que depois de um contacto com o kendo decidem continuar a praticar, deve ser ainda muito menor o número dos que podem dizer que o kendo correspondeu às suas expectativas.
Que quer isto dizer? Na minha modesta opinião, a maior parte das pessoas não tem, ou tem uma ideia muito mal concebida, daquilo que os espera quando entram numa aula de kendo pela primeira vez.
Misticismo, esclarecimento espiritual, mero treino físico, tudo serve para explicar os porquês de continuar e de desistir do kendo.
Mas há uma palavra que a meu ver, e disse-o no artigo que escrevi em Janeiro de 2001 para a Revista Demais do Diário Econômico, descreve a diferença essencial entre quem continua e quem desiste da prática do kendo. Essa palavra é paciência. E paciência, porquê?
Paciência, porque os objectivos (ou benefícios?) do kendo não estão imediatamente à nossa frente quando se começa a praticar.
Paciência, porque muitas vezes os objectivos que surgem à nossa frente, depois de termos tido muita paciência a tentar identificá-los, não são o que pareciam.
Paciência, porque até os objectivos que são verdadeiramente importantes numa determinada fase da vida do kendoka, como a competição, por exemplo, mudam e deixam de o ser à medida que a vida, o treino e a idade progridem.

Por essas e por outras se diz que é o kendo que escolhe os seus praticantes. Mas, na minha opinião, o kendo é para todos. Foi concebido para tal. Esses são os princípios do budo (ver artigos 1 e 2 da cartilha da Associação Japonesa de Budo). O kendo pode ser praticado dos 7 aos 77 anos de idade (e mais). Pode-se começar a praticar aos 30 anos (ou mais, como eu). Pode-se começar aos 40 ou aos 50. Dirão, irónicos: “Uma pessoa que comece aos 30 ou 40 vai ter uma grande carreira de competição.” Mas quem disse que o kendo é competição? Quem disse que para se fazer kendo tem de se fazer competição?
Como diz Inoue Yoshihiko, 8º dan Hanshi: “o do é o “coração” do kendo e (...) a competição é mais uma demonstração de jutsu (técnica) do que de do (via, caminho)(...)”
É tudo uma questão de objectivos e de paciência.

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