4.1.07

O “ORFÃO” (TAMBÉM CONHECIDO COMO SEMPAI)

Eu, por acaso ou sorte, até conheci grandes senseis.
Até hoje, tive a honra (e o prazer) de receber instrução, e refiro-me agora apenas ao kendo, de pessoas como Sumi Masatake, Okada Kazuyoshi, Shimojima, Sueno, e claro, Osaka Masakiyo, isto entre muitos outros.
Mas não vou falar da figura do sensei e do seu significado, isso ficará para um próximo post. Em vez disso, vou debruçar-me um pouco sobre uma outra figura da hierarquia marcial acerca da qual raramente se fala: os sempai.

O sempai que, muitas vezes, é mais responsável pela boa formação dos kendokas do que todos esses grandes mestres que conheci e que citei atrás.

De todos os livros que possuo que têm como tema central o kendo, apenas um refere no, quase obrigatório, glossário que preenche todas as últimas páginas de todos os livros sobre kendo, refere, dizia eu, a palavra “sempai”.
Duas palavras apenas “senior student” chegam para explicar sem grandes problemas o que é um sempai; é um aluno mais antigo, portanto.
Mas reparem que não disse o aluno mais antigo, uma vez que, e atrevo-me a semelhante raciocínio, nem todos os sempai são alunos mais antigos (raro, mas acontece) e que nem todos os alunos mais antigos são sempai (bastante frequente).

Mas a verdade é que esse orfão da atenção, e muitas vezes do respeito que lhe é devido, é muito mais do que um aluno mais antigo.

Muito bem e quem raio é sempai, então?

Sempai é um colega aluno mais graduado do que eu.
Sempai é a pessoa encarregada de ensinar os mais novos. Eu só tenho um sensei, mas tenho vários sempai. E ao mesmo tempo, em compensação, gosto de pensar que posso ser sempai para alguns dos praticantes mais novos que eu.
O relacionamento é sempre feito a “partir de baixo”, digamos assim.

OK, adiante. Mas então o que se pode esperar de um bom
sempai? Tenho a certeza que muitas outras caraterísticas servirão para identificar o dito, mas, assim de repente, as que me aparecem imediatamente, diria que são as seguintes:

Um bom sempai sente prazer em ajudar os alunos mais novos.

Um bom sempai fica chateado quando o sensei falta e é obrigado a dar uma aula, pois tem consciência que a sua aula será sempre uma “imitação menor” daquela que o seu sensei daria, caso estivesse presente.

Um bom sempai, quando dá aula, imita o melhor que sabe, e o melhor que se lembra e que pode, as melhores aulas que recebeu do seu sensei.

Um bom sempai é como uma boa ligação de internet. Deve conduzir e transmitir a informação com fidelidade.

Um bom sempai deve ser tão exigente para com os alunos mais novos como o seu sensei foi para com ele. Nem mais, nem menos.

Um bom sempai não tem o direito de esperar nada em troca, quando ensina o pouco que sabe. Ao contrário, por exemplo, de um bom sensei que, a meu ver, tem.

Um bom sempai é resultado de um bom sensei. Embora um bom sensei não tenha a obrigação de todos os seus alunos serem bons sempai... ou sempai, sequer.

Um bom sempai repete o que o seu sensei lhe ensinou. À sua maneira, por hipótese, mas o mesmo.

Um bom sempai interessa-se por aprender mais.

Um bom sempai não tem medo ou vergonha de interrogar os seus sempai e/ou o seu sensei para aprender mais.

Um bom sempai não se importa, nem tem de se importar, se não lhe chamarem sempai... se se importar é porque não é sempai.


E além do mais, sempai(s) há muitos.

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