16.1.07

OLHA, UM PEQUENO POST SOBRE ARBITRAGEM


Ó pra eles com a bandeirola da minha cor levantada.
Devo ter feito alguma coisa bem feita.

Dizia-me alguém em Kitamoto, no dia anterior ao meu shinsa, que os juízes apenas procuram as “coisas bem feitas” nas acções do examinado, em número suficiente, para o passarem no exame.

Não deixa de ser curioso, pensei. Habituados como estamos a criticar e a sobre-valorizar o que está mal e a não reparar, ou pelo menos colocar sempre em segundo plano, o que é bem feito, eis uma maneira interessante de encarar o mundo.

E o que tem isto a ver com o título que este post ostenta?

Ser árbitro de kendo é, a meu ver, um pouco assim. Só que, de certa maneira, mais fácil.
É que, enquanto os requisitos de exame necessários (ler: o número de “coisas bem feitas”) aumentam e se modificam à medida que se vai progredindo, ao árbitro de kendo só se lhe pede, essencialmente, que reconheça uma coisa, qualquer que seja o núivel dos competidores que arbitra e essa coisa é: ki-ken-tai.

Eu sei, eu sei, há toda uma série de termos e situações que é necessário aprender e dominar mas, em última análise, um bom árbitro é a aquele que reconhece e recompensa devidamente uma situação de ki-ken-tai.

Aliás, ki-ken-tai no itchi é inconfundível. A situação resultante de uma acção executada com o espírito adequado (ki), uma utilização técnica correcta do shinai (ken) e a colocação corporal perfeita (tai) durante a mesma, só pode significar uma coisa: ippon.

O problema dirão é como reconhecer, muitas vezes no meio de uma saraivada de golpes e contra-golpes, onde está a técnica boa? Aquela que vale e merece ser recompensada.

Shimojima sensei
durante as aulas de arbitragem (do curso de gaidjins de Kitamoto) dizia que uma das melhores maneiras de reconhecer um ippon é, para além dos olhos, claro, ter os ouvidos bem atentos.
O som de um ippon a ser marcado é, pelo menos, meio caminho para o reconhecer.

Ora, como sei que no passado fim-de-semana ouve um treino em Coimbra que incluiu, ao que me disseram, um pouco de arbitragem, vou recorrer aos meus apontamentos de Kitamoto e transcrever as dicas mais importantes que me ensinaram acerca da acção de avaliação, propriamente dita, de um ippon. Diziam eles que um árbitro deve:

Dica 1Nunca tirar os olhos dos competidores e, para tal, acompanhar sempre o combate numa posição que permita que tal aconteça a todo o instante;
Dica 2Tomar muita atenção aos ruídos e sons produzidos pelo combate;
Dica 3Não se precipitar nas decisões, pois nenhum árbitro é castigado por ter sido o último a levantar a bandeirola;
Dica 4Julgar a acção de uma forma completa, quer dizer, tomar atenção a zanshin depois dos ataques (e por isso, ver Dica 3);
Dica 5Manter o corpo descontraído e a mente alerta;
Dica 6Ter sempre uma opinião sobre o que se passou, para o caso de algum dos árbitros convocar gogi (reunião de decisão sobre um assunto do shiai).

Esperando que este post possa ser uma pequena ajuda para os nossos mais recentes aspirantes a árbitros, despeço-me com amizade até ao próximo.

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