Eis o segundo dos três textos sobre a história das artes marciais japonesas, amavelmente cedidos pelo autor, o sensei Kenji Tokitsu. Para saberem tudo sobre ele, e também para ter acesso aos seus outros textos (em francês) vão até http://www.tokitsu.com e boa leitura.
A palavra budo (“via marcial”) surge a partir da era Meiji (1868-1912) para designar especificamente as artes marciais japonesas. A distinção entre o budo e os desportos de combate, no entanto, atenua-se com a introdução de competições desportivas, em particular no judo, no kendo e no karaté. Por outro lado, o budo distingue-se do bushido antigo, pois abandona os elementos éticos que eram próprios dos guerreiros e distingue-se também do bujutsu (“técnica marcial”), palavra essa, que serve para designar as artes marciais antigas, de uma maneira geral.
O budo, esse, perpectua, de uma forma acessível a toda a gente, as disciplinas que eram outrora privilégio dos guerreiros.
No decurso da época moderna, as artes marciais que se desenvolveram em princípio no sentido da formação individual, começam a ser cada vez mais envolvidas pelo espírito militarista que vai dominar a sociedade japonesa até à segunda guerra mundial. Por essa mesma razão, durante a ocupação do pós-guerra, são atingidas por uma interdição por parte dos aliados que as vêem como um dos suportes ideológicos que motivou os japoneses durante a mesma, interdição que começará por ser levantada primeiramente ao karaté. A partir de 1950 e com a mudança política originada pela guerra da Coreia, são de novo autorizadas, primeiro o judo e depois as outras disciplinas.
Após a guerra, o militarismo foi alvo de severas críticas por parte dos próprios japoneses e as artes marciais assumem um novo ponto de partida baseado desta vez em novas orientações pacifistas. No entanto, é esse passado que explica o porquê de, ainda hoje, a imagem das artes marciais ser frequentemente associada ao conservadorismo e à extrema-direita. É verdade que elas ainda conservam uma certa propensão para privilegiar um certo culto de colectivismo, que pode sempre servir de catalizador para diferentes formas de fanatismo. Face a esse perigo, alguns reagiram e, redefinindo os objectivos do budo, colocaram a tónica sobre a formação pessoal, de maneira a distanciar-se em relação às correntes sociais dominantes.
Na era Edo, o sabre é o símbolo por excelência dos guerreiros, que o praticam sob denominações como gekiken ou kenjutsu. Com a abolição da ordem dos guerreiros em 1872, a arte do sabre passa a ser bastante desconsiderada. Pelo seu lado, os antigos homens de armas não vêem com bons olhos um exército de soldados alistados segundo o modelo ocidental. Quando esse exército se encontra em dificuldades durante uma insurreição de guerreiros do sul do Japão em 1878, é um grupo de adeptos do sabre da polícia que, servindo de reforço, contribui decisivamente para a victória das forças governamentais, acontecimento esse que restaura a imagem dessa disciplina. Os melhores adeptos do sabre, antigos guerreiros sem emprego, são contratados como instrutores da polícia e, sob a orientação da direcção da polícia de Tóquio, surgem vários centros de treino (dojo).
Em 1895 é criada em Quioto uma associação, o Butokukai (“Sociedade da Virtude Marcial”), que controla a qualidade das artes marciais e confere os títulos e as graduações mais elevadas. Butokukai que estará na origem, em 1905, de uma escola superior de budo, onde se ensina principalmente o judo e o kendo. Essas disciplinas virão posteriormente a ocupar um lugar importante na educação física e espiritual dos militares. Em 1911, finalmente, a arte do sabre e da luta são integradas a título de opção nas aulas de educação física das escolas secundárias; em 1925 os textos oficiais utilizam pela primeira vez, para denominar essas disciplinas, as palavras kendo e judo.
The japanese martial arts (II)
Here’s the second of the three articles about the history of japanese martial arts, gentily yielded by it’s author, Kenji Tokitsu sensei. In order to know everything about him, and also to have access to his other articles (mostly in french), go to http://www.tokitsu.com and have a good reading.
The word budo (“marcial way”) appears during the Meiji period to specifically designate the japanese martial arts. The distinction between budo and combat sports, attenuates itself with the introduction of competition, particulary in judo, kendo and karate. On the other hand budo distinguishes from the old bushido, by letting go of it’s ethical elements, wich were an exclusive of the warriors and also distinguishes itself from “bujutsu” (martial technic), the word used to designate the whole of the old martial arts.
Budo perpetuates, in an accessible way to everybody, the disciplines that were once the privilege of the warriors.
During the modern era, and after a development centered around personal improvement, the martial arts started to get involved by a militaristic spirit, the same one that is going to dominate the japanese society until the second world war. So, it’s no surprise that, during the post-war occupation, the martial arts are banned by the allies who looked upon it as one of the ideological supports of the japanese people during the conflict. The ban will be lifted first on karaté. From 1950, with the political changes brought by the war in Korea, all the other disciplines were once again allowed, starting with judo.
After the war, militarism was severely criticised, even by the japanese and the martial arts assume a new starting point, this time based on new pacifistic principles. However, that recent past is oine of the reasons why the image of martial arts is frequently associated to conservadorism and right-wing extremists. The truth is, martial arts still conserve a predisposition to privilege a certain cult of colectivism, often used as a catalyser by all kinds of different forms of fanatism. Faced with that danger, some reacted and, redefining the objectives of budo, placed (again) the accent on personal improvement, setting themselves apart from those social tendencies.
During the Edo period, the sword is still the weapon of excellence of the warriors, who practice it under such names as gekiken and kenjutsu. When the samurai class is dissolved in 1872, the art of the sword becomes a not very well regarded discipline. The former warriors, them, don’t appreciate much the idea of a regular army composed by enlisted men, following the western style. When that same army faces huge problems during an insurrection of warriors from southern Japan in 1878, it’s a group of policemen composed by followers of the art of the sword who contributes decisively to the governement’s forces victory, restauring the good image of the discipline. Soon, the best swordsmen, unemployed former warriors, are hired as police instructors, and under the Tokyo Police supervision various fencing halls (dojo) open their doors.
In 1895, the Butokukai (“Society of the Martial Virtue”) it’s created in Kyoto, an association that regulates the quality of martial arts and confers titles and the higher grades. Butokukai wich will be the origin, in 1905, of a budo university, where judo and kendo are mainly teached. Those two disciplines will later play a very important role, in both the physical and spiritual education of the military. In 1911, finally, the arts of the sword and of grappling become a part of physical education in all high schools of Japan; in 1925 the official documents use for the first time, in order to identify those disciplines, the words kendo and judo.
7.12.04
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