E assim cá vamos nós alegremente continuando a traduzir os textos de sensei Tokitsu. De acordo com a tradição, quero lembrar-vos de visitar a página desse senhor que tão simpaticamente me autorizou a traduzir os artigos que agora (espero eu) usufruem. E onde está o site do dito senhor? Mesmo aqui: http://www.tokitsu.com.
A última etapa do kendo, o fundamento do budo
Podemos agora compreender esta frase publicada no nº9 da revista “Kendo Jidai” em 1987:
“Acerca do torneio entre os 8º dan, não houve bons combates este ano, apesar de A. (?) Hanshi ter gerido muito bem o seu combate. Com o seu ki, conseguiu afastar cerca de 5 ou 6 metros o seu adversário de igual nível. É uma coisa difícil de realizar. Mas ainda não compreendeu o essencial do kendo, visto que acabou por lhe executar um golpe no final (do combate). Não precisava de o ter feito, uma vez que já tinha sido capaz de afastar o opositor até esse momento, dominando-o apenas com o ki.”
Esta apreciação subentende uma ideia que se pode formular de variadas maneiras: “Se é possível afastar o adversário desse modo, não era necessário golpear, pois que a situação era evidente. Se ele golpeia, isso implica crueldade. Que outro sentido pode ter o acto de golpear, depois de ter o conduzido e imobilizado com a força do ki?”
É precisamente sobre este ponto que o kendo e a arte do sabre dos samurais diferem pois, uma vez desembainhado o sabre o samurai devia matar. Pode-se dizer que o kendo apareceu quando deixou de ser necessário matar, apesar de se levar o combate sério. Essa atitude, já presente no Japão desde o séc. XVII; é formalizada no fim do séc. XIX e constitui uma das bases do pensamento do budo, à qual Jigoro Kano deu uma forma moderna. Quando o karaté foi introduzido no Japão central, no começo do séc. XIX, foi confrontado com o pensamento e a qualidade atingida pelo budo, do qual a disciplina mais representativa era o kendo. Os mestres de karaté captaram intuitivamente essa profundidade do budo e esforçaram-se para se aproximar dela o mais possível.
A. Itosu, que ficara na ilha de Okinawa, tinha concebido o karaté como um meio de educação fisíca inspirado no modelo militar, mas o seu aluno Gichin Funakoshi, ao instalar-se em Tóquio, tomou como modelo o budo tradicional. Uma vez que ministrava as suas aulas no Yushinkan, o dojo de kendo do célebre Hakudo Nakayama, teria sido de espantar se G. Funakoshi não tivesse tomado consciência do desfasamento qualitativo entre o karaté de Okinawa e o budo japonês, tanto no que respeita à forma como ao nível atingido por ambos.
O método de treino e de ensino do karaté foi elaborado a partir dos exemplos do kendo, do judo e do jujutsu. Os exercícios de sanbon-kumité ou gohon-kumité tem origem nos exercícios de treino do kendo kiri-kaeshi ou uchi-kaeshi. Várias formas de yakusoku-kumité são originadas a partir de exercícios de jujutsu. As roupas utilizadas e o sistema de graduações representado com os cintos coloridos, foram inspirados no judo. Assim, durante a primeira metade do séc. XX, tanto pela forma como pelo conteúdo, o karaté adaptou-se à forma japonesa do budo. Mas é preciso realçar que, mais do que as modificações aparentes, o que não parava de chamar a atenção os mestres de karaté era profundidade do budo japonês. O combate entre S. Takano e K. Naïto dá o exemplo dessa profundidade, com a qual foram confrontados com grande choque e admiração.
The search of depth in combat (part II)
And so here we go again, happily translating sensei Tokitsu's articles. According to tradition, I would like to remind you to visit the website of the gentleman that kindly allowed me to translate the articles that you are now (hopefully) enjoying. And where is it, you might ask? Right here: http://www.tokitsu.com.
The last stage of kendo, the foundation of budo
We are now in a position to better understand this paragraph publish in “Kendo Jidai” magazine, number 9, 1987:
“About the 8th dan tournament, there were no good fighst this year, although A. (?) Hanshi conducted his fight really well. With his ki, he managed to push his adversary of equal level some 5 or 6 metters. That’s a hard thing to accomplish. But he is yet to understand the the essence of budo, since he ended up (the combat) by striking him. He didn’t have to, because he had already shown he could push his opponent, dominating him only with his will.”
This appreciation reveals an idea that can be expressed in different ways: “If it’s possible to keep your adversary away like that, there was no need to strike him, because the situation was obvious. Striking implies cruelty. What other meaning can the act of striking have, after you drived and immobilized him with the use of ki?”
And this is precisely the point where kendo and the samurai’s sword art diverge, because once the sword was drawn, the samurai should kill. One can say kendo appeared when there was no more need to kill, although one was serious about combat. This attitude, wich exists already in Japan since the XVII century, takes on a distinctive form by the end of the XIX century and is one of the foundations of budo philosophy, the same one Jigoro Kano shaped in a more modern form. When karaté was first introduced in central Japan, in the beginning of the XIX century, it was confronted by the philosophy and by the quality attained by budo, from wich the most representative discipline was kendo. The karaté masters captured the depth of budo in an intuitive way and tried effortfully to get as close of it as possible.
A. Itosu, who remained in Okinawa, had conceived karaté as a way of physical education, inspired by the army model, but his student Gichin Funakoshi, after installing himself in Tokyo, he took traditional budo as his model.
Since he teached at the Yushinkan, the kendo dojo of the famous Hakudo Nakayama, it would had been a surprise if he hadn’t realized the qualitative gap between the okinawan karaté and the japanese budo, in matters that concern to form and level attained by both. Hence the methods of training and teaching karaté being inspired by the examples of kendo, judo and jujutsu.
Exercices like sanbon-kumité or gohon-kumité have their roots in kendo exercices like kiri-kaeshi and uchi-kaeshi. Various forms of yakusoku-kumité were originated from jujutsu exercices. The uniforms and the grading sistem represented by the different coloured belts were inspired by judo. And so, during the first half of the XX century, both by form and by content, karaté adapted itself to to japanese budo. But the most important thing is that what kept calling the karaté masters attention was the depth of japanese budo. And the combat between S. Takano and K. Naïto is a good example of that depth, against wich they were confronted with great shock and admiration.
23.12.04
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