31.12.06

2007, 2007... EU SEI LÁ...

No fim do ano passado desejei que 2006 fosse ao menos tão “pouco mau” como 2005.
Já não seria mau. Afinal, em 2005 ainda fui até Kitamoto.
Mas o meu ano de 2006 foi muito pior do que o ano que o antecedeu. De longe.

Nota. A neura previamente localizada neste espaço foi dissolvida pelo autor.

A todos, um ano 2007 de keiko melhor que o meu de 2006... também não deve ser difícil.

Abayo.

28.12.06

CONSULTÓRIO KENDIMENTAL 2

Caro Senhor:

Preciso da sua ajuda.
As pregas do meu hakama não ficam no devido lugar a cada vez que o lavo.

Como sou maníaco compulsivo, não só em termos de limpeza, mas também de arrumação e de ordem, é uma carga de trabalhos. Lavo o hakama na máquina três vezes por semana e as pregas quando ele seca, como já lhe disse, nunca ficam no devido lugar.

Aí, tenho um trabalhão enorme a passá-lo a ferro. E as pregas lá vão ao lugar; mas se fôr treinar nesse dia, eu tenho de o lavar quando volto do treino e assim as pregas deixam de estar no seu devido lugar.

Compreende o meu problema?

Kendoka Kompulsivo


Caro Kompulsivo:

O máximo que lhe posso dizer é explicar-lhe como faço para lavar e secar os meus hakamas (atenção ao plural) e como mantenho as pregas, o que, no meu caso, é tudo a mesma coisa.

A primeira coisa que tem de fazer é comprar um segundo hakama, tendo em conta o seu “problema”, parece-me o mais aconselhável.

Depois, NÃO LAVE O HAKAMA NA MÁQUINA DE LAVAR.

Faça uma “barrela” à maneira antiga.
Deite uma mão-cheia de detergente para dentro de um alguidar, encha de água morna e mergulhe o dito cujo lá dentro, agitando-o vigorosamente.
Deixe de molho e, se fôr dia de treino, pegue no 2º hakama e vá treinar sossegado.

Depois de lavado PENDURE-O PRESO PELA PARTE SUPERIOR E DEIXE QUE O PESO DA ÁGUA O ESTIQUE.

Verá que, sobretudo se fôr feito com “bom acrílico” como os meus, as pregas se mantêm no devido lugar.
Quando secar, NÃO O PASSE A FERRO, dobre-o apenas correctamente, respeitando as pregas originais.

E por falar em pregas e dobras, eis aqui um esquema traduzido pelo sensei R. Stroud* da All United States Kendo Federation, e da autoria de Tasuke Honda sensei, nanadan, acerca do significado das diferentes pregas do hakama (e, curiosamente, dos nódulos no bambú do shinai).



Tenho quase a certeza que um maníaco da ordem e da arrumação como você vai adorar saber, quiçá decorar, os significados de todas e cada uma das ditas pregas e nódulos do shinai.

Fui.

*E depois, traduzido por mim.

21.12.06

ECOS DE NATAL

Impõe-se por esta altura, por muito que não se seja fã da época natalícia, a habitual saudação que faz eco do espírito da estação.
Por isso, e só por isso:

FELIZ NATAL... E TAL E TAL E TAL E TAL

Pronto, este já está despachado.

15.12.06

OURO OLÍMPICO, OUTRA VEZ? NÃO, OBRIGADO

Ui, qué miedo... ya san los coreanitos electronicos?
Foto legalmente roubada em:
http://www.simulacre.org/wordpress/photos/album/72157594418471719/

Facto 1 - Os kendokas do mundo inteiro sabem (ou deviam saber) que a Federação Internacional de Kendo (FIK) foi aceite como membro de pleno direito do GAISF*;

Facto 2 - Sabem (ou deviam saber) que depois de ter sido aceite pelo GAISF a FIK é a única organização mundial que se pode denominar representante dos praticantes do “desporto” apelidado “kendo”;

Facto 3 - Assim sendo (Facto 2), nenhuma outra organização mundial pode usar o nome “kendo” com a intenção de o transformar num “desporto olímpico”;

Facto 4 - A FIK é contra o “kendo olímpico”, e no entanto...

No entanto... basta a equipa coreana ganhar a final de equipas no campeonato do mundo para, um pouco por toda a parte, nos forúns dedicados ao kendo, o fantasma do “kendo olímpico” fazer a sua reaparição... em força.

Pouco ou nada importa que os representantes da Coreia façam, obviamente, parte da Korean Kumdo Association (KKA) que, por sua vez, obviamente, faz parte da FIK, que (ver Facto 4) é contra o denominado kendo olímpico.

Pouco importa que a World Kumdo Association (WKA), favorável ao dito cujo “kendo olímpico”, não tenha grande peso na balança do kendo coreano, tal como pouco importa que a KKA seja a legítima representante da grande maioria dos kendokas naquele país.

Nada disso importa.
Começa-se por se falar da arbitragem durante o último mundial, timidamente, compara-se com a arbitragem da esgrima olímpica, antes e depois de ser introduzida a pontuação electrónica, e três post depois, está tudo “histérico”, a discutir o que acontecerá quando esta for introduzida na competição de kendo.
Daí em diante, como diz o outro, só há dragões.

Claro que tudo não passa, antes de mais nada, de um reflexo racista e primário, a meu ver bastante condenável, e que pode ser resumido mais ou menos assim:

“Os coreanos” ganharam e como “os coreanos” é que "inventaram" o kendo olímpico, logo, “os coreanos” vão implementar, ou tentar implementar, o dito cujo.

É um pouco como dizem “os brasileiros”, que “os portugueses” chamam-se todos ou Joaquim ou Manuel.

Assim, também “os coreanos” são todos a favor do kendo olímpico.

Tivesse sido o Japão a ganhar ou, por falar nisso, qualquer outra equipa, que não “os coreanos”, e pouco ou nada se falaria do assunto.

A discussão sobre a arbitragem poderia levar à pontuação electrónica da esgrima ocidental, mas o assunto, muito provavelmente, morreria por aí, visto que “os japoneses”, ou “os outros”, tinham ganho e como “os japoneses e os outros” são contra o kendo olímpico a discussão acabava cedo.
Mas não... foram “os coreanos” que ganharam. Enfim, se não os podes vencer, junta-te a eles.

Eu já encomendei um kendogu electrónico e vocês?


*Se houver paciência, ver, a este propósito, os 3 artigos “Kendo e Jogos Olímpicos” em:
http://usagikendo.blogspot.com/2006_04_01_usagikendo_archive.html

AULAS DE NAGINATA EM LISBOA



Consta por aí
... que uma naginataka belga, sandan de graduação, vai começar a dar aulas de Naginata, às 2ªs e 6ªs a partir das 18 horas, no ginásio da Escola Secundária Patrício Prazeres em Lisboa.

Diz-se que, a acontecer, seria a primeira vez que alguém o faria no nosso país, pelo menos de um modo regular.

Isto é o que consta... é o que se diz por aí.

13.12.06

13WKC VIDEOS: COREIA X EUA

Aqui, os cinco combates da final Coreia x Estados Unidos:

Senpo
Sandy Maruyama (USA 4) Young Dae Kim (COR 6)
http://www.youtube.com/watch?v=oP-puSpBETc

Jiho
Danny Yang (USA 2) Wan Soo Kim (COR 5)
http://www.youtube.com/watch?v=tZYSCTCqI8A

Chuken
Cris Yang (USA 1) Kang-Ho Lee (COR 5)
http://www.youtube.com/watch?v=CG91pnx5kTs

Fukusho
Fumihide Itokazu (USA 3) Sang Hoon Kang (COR 7)
http://www.youtube.com/watch?v=w2rZSk9oNwo

Taisho
Marvin Kawabata (USA 5) Jung Kook Kim (COR 1)
http://www.youtube.com/watch?v=CtnjmKhz970

13WKC VIDEOS: JAPÃO X EUA

Os cinco combates da meia-final Japão x Estados Unidos:

Senpo
Ryuichi Uchimura (JPN 1) Sandy Maruyama (USA 4)
http://www.youtube.com/watch?v=GvRazdBgIaQ

Jiho
Susumu Takanabe (JPN 4) vs Daniel Yang (USA 2)
http://www.youtube.com/watch?v=lZABMQc-fGI

Chuken
Shoji Teramoto (JPN 6) vs Fumihide Itokazu (USA 3)
http://www.youtube.com/watch?v=0Wggem42PIc

Fukusho
Jun Nakada (JPN 7) vs Christopher Yang (USA 1)
http://www.youtube.com/watch?v=fEro3z8Xa2w

Taisho
Koichi Seike (JPN 3) vs Marvin Kawabata (USA 5)
http://www.youtube.com/watch?v=Zu06p0Or1P0

RON BEAUBIEN

One Chance in the Blink of an Eye
Todos os anos a Federação Japonesa de Kendo (ZNKR) organiza um concurso de fotografia subordinado ao tema... kendo, claro. Este ano a fotografia vencedora, intitulada “One Chance in the Blink of an Eye“ é da autoria de Ron Beaubien.

Ron Beaubien vive em Tóquio desde 1992 e practica Toda-ha Buko-ryu Naginatajutsu e Tatsumi-ryu Hyoho. É membro da Nihon Kobudo Shinkokai e da Nihon Kobudo Kyokai participa regularmente em demonstrações de artes martiais clássicas (Nihon Kobudo) por todo o Japão.

O seu trabalho fotográfico aparece em livros como Keiko Shokon, Sword & Spirit e Filipino Fighting Arts, entre outros, e nas revistas Kendo World, Martial Arts Illustrated e Furyu: The Budo Journal.
Neste momento, Ron trabalha num projecto pessoal documentando as artes martiais clássicas no Japão.

Ron ensina inglês e trabalha também como tradutor para a associação Nippon Budokan de Tóquio.

No seu site, em www.ronbeaubien.com, podem encontrar alguns dos seus trabalhos.

11.12.06

13TH WORLD KENDO CHAMPIONSHIPS (ÚLTIMO)

RESULTADOS DO QUARTO DIA: EXAMES DE GRADUAÇÃO

Era só o que faltava saber.

Como é que os nossos "meninos" se portaram nos exames, depois de não terem sido bafejados pela sorte durante o torneio propriamente dito?

Pois é caso para dizer que tiraram a barriga da miséria. Dos três propostos a exame... todos três sairam triunfantes. 100% de sucesso.
Já temos um 4º dan, o Sérgio; temos um novo Nidan, o Henrique e um novo shodan, o Luis, mais conhecido como : "O Sousa".
Aos três, da minha parte, um grande PARABÉNS.

DESCONTOS ESPECIAIS PARA SHIMPAN(S) DE TAIWAN

Algumas imagens do campeonato do mundo, nomeadamente um combatente japonês, em jodan, a ser prejudicado num combate de equipas contra os USA.

Vejam (na repetição em cãmara lenta) como os árbitros marcam um men do americano que não existe... e não marcam um kote do japonês na mesma acção.

O segundo, o kote do americano, é limpinho, sim senhor, mas o primeiro... só tenho uma coisa a dizer: uma promoção "Multiópticas" para shimpan seria um sucesso.

http://www.youtube.com/watch?v=-nCquKiw3DY

10.12.06

13TH WORLD KENDO CHAMPIONSHIPS

RESULTADOS DO TERCEIRO DIA DE PROVA

E, ao terceiro dia, o milagre aconteceu.

Pela primeira vez na história dos campeonatos do mundo surge um vencedor não-japonês.

O feito histórico coube à selecção da Coreia que venceu na final a sua congénere... hã... ??? americana???
Wow, que volta meus amigos. Os americanos ficaram em segundo?... Bem bem bem bem... que coisa estranha.

Enfim, para a história, o resultado da competição masculina por equipas foi o seguinte:

1º Lugar - Coreia;
2º Lugar - USA;
3º Lugar - Japão e Taipé.

A minha alma está parva.

9.12.06

13TH WORLD KENDO CHAMPIONSHIPS

RESULTADOS DO SEGUNDO DIA DE PROVA

Bom, pode-se dizer que pelo menos o Paulo Martins já tem mais alguma coisa nova a juntar aoseu curriculum. Combateu em competição contra um campeão do mundo.

Na verdade, o japonês M. Hojo sagrou-se o novo campeão do mundo individual. Pode-se dizer que, até agora, estes campeonatos (pelo menos em termos de resultados) não trouxeram grande coisa de novo.

Resultados do torneio individual masculino:

1º Lugar - M. Hojo (Japão)
2º Lugar - T. Tanaka (Japão)
3º Lugar - S. Kang (Coreia) e G. Ho (Coreia)

Amanhâ é o dia do grande embate do costume. Se as coisas correrem como habitualmente, o Japão e a Coreia defrontar-se-ão ao fim do dia, para decidir mais uma vez quem é o melhor na competição de equipas.

8.12.06

O KENDOKA PORTUGUÊS MAIS GRADUADO DO MUNDO?

Manuel Alves, o segundo a contar da direita, na fila de baixo, kendo godan.

Que se saiba, o Sr Manuel Alves é o kendoka português mais graduado que existe e fez-nos uma visita um dia destes. Treina em Avignon na França e é 5º dan. Apesar de eu estar presente na foto, não tive o prazer de poder fazer keiko com ele (chuif).
Nessa altura a minha tendinite estava a dar-lhe forte e feio, por isso, o meu keiko resumia-se a mitori-keiko.
Falei com ele 2 minutos e fiquei muito feliz por saber que ele, de vez em quando, visita este modesto blog.
Caro sensei Manuel volte sempre, ao blog e ao nosso dojo.
PS.: A foto que ilustra este post foi gentilmente roubada do site da Charlotte.

13TH WORLD KENDO CHAMPIONSHIPS

RESULTADOS DO PRIMEIRO DIA DE PROVA

Na competição individual feminina, é caso para dizer que o Japão não podia arrasar mais do que arrasou. As quatro participantes japonesas classificaram-se nos quatro lugares do topo:

1º lugar - Sugimoto;
2º lugar - Komuro;
3º lugar - Inagaki e Shimokawa.

Nas equipas, mais do mesmo.
O Japão ficou em 1º lugar, Coreia em 2º e o Canadá dividiu o 3º com... aqui a grande surpresa destes campeonatos... a Alemanha.

Mais notícias à medida que elas vão surgindo.

7.12.06

CAMPEONATO NACIONAL (2)

Esta é uma das fotos que a nossa naginataka (naginateira, naginatadora?) residente, enfim, a Charlotte Vandersleyen, tirou durante o último campeonato no pavilhão do Casal Vistoso.

O Paulo Martins já me tinha dado o link mas por um motivo qualquer não funcionou, pelo menos comigo. Ou seria quando o meu computador estava out?...

Enfim, aqui está, em grande destaque, o dito cujo:
http://mediaplan.ovh.net/~widescre/naginata/site/pictures/kendochamp/

4.12.06

MAAI, HYOSHI E YOMI (3 e último)

YOMI

Até agora falámos de dois de três conceitos essenciais para compreendermos melhor a essência do combate no budo: maai e hyoshi.

O conceito final, Yomi, é uma forma de conjugação do verbo “yomu” que significa basicamente ler, embora também possa por vezes ser traduzido como decifrar. Só isso.

Podemos então tentar resumir as funções dos diferentes componentes do combate:
Controlar o Maai, é gerir, por assim dizer, o intervalo espacio-temporal entre nós e aquele que a nós se opõe.
Hyoshi, tem a ver com o uso correcto da(s) arma(s) à nossa disposição e das nossas capacidades técnicas, bem como do conhecimento que se tem do próprio corpo e das suas possibilidades, de forma a poder suplantar o adversário.
Aplicado à prática do budo, Yomi significa ler gestos, intenções e pensamentos do oponente; decifrar as suas acções, movimentações e ataques.
E apesar de, por vezes, poder parecer uma componente menor, Yomi é a chave do sucesso num combate de kendo.

Eu explico. Normalmente as possibilidades de desenvolvimento de um combate são explicadas por três conceitos conhecidos no seu conjunto como mittsu-no-sen (os três sen):
Go-no-sen, sen-no-sen e sensen-no-sen.

Go-no-sen (também chamado sengo-no-sen ou tai-no-sen) consiste em, depois do ataque do adversário, bloquear e contra-atacar.
Sen-no-sen (ou senzen-no-sen) existe quando, face a um ataque do adversário, se consegue antecipar o seu movimento e desferir com sucesso um ataque (reparem que não digo contra-ataque) antes que o seu gesto técnico seja completado*.
Sensen-no-sen (por vezes referido como kakari-no-sen) é normalmente explicado como o reconhecer da intenção de ataque do opositor, o que origina um ataque vitorioso antes mesmo dele iniciar o seu.

Ora tudo isto seria muito lindo e muito simples não fosse o caso de nos ensinarem que durante um combate todos os movimentos de ataque devem ser resultado de um trabalho de criação de suki. Ou seja, que antes de se atacar deve-se sempre “criar” a oportunidade, o vazio que se vai preencher com um ataque vitorioso. Quer através de fintas “físicas”, quer através da aplicação de pressão psicológica sobre o adversário (seme).

Onde eu quero chegar com isto tudo é ao facto de não se poder, como muito boa gente faz, encarar cada um dos componentes do mitssu-no-sen como compartimentos estanques, quer temporal quer espacialmente.

Há tempos, nas palavras que habitualmente dirige aos seus alunos após o treino, o sensei Osaka mencionou um conceito conhecido como Tame. Tame é, grosso modo, a capacidade de encontrar e reconhecer o “ponto de não-retorno”, chamemos-lhe assim, durante um combate.
Aquele momento em que a pressão exercida pelos adversários é tal que já não há maneira de voltar atrás.
Tame é um momento onde, mais do que a distãncia e do que a técnica, é a leitura do adversário que vai ser fundamental para o sucesso.

Voltando agora a Yomi não me parece muito díficil perceber que a definição de “leitura do adversário” ganhe um peso e uma importância que à partida, possivelmente, não teria.
Na verdade, não será exagero dizer que tudo num combate de kendo, sobretudo se os adversários forem tecnicamente equivalentes, está dependente da leitura que se faz da atitude do opositor.

E se isso é evidente em sen-no-sen e sensen-no-sen, mesmo no caso de go-no-sen as possibilidades de sucesso são infinitamente mais elevadas se, ao invés de simplesmente esperar o ataque do adversário para depois contra-atacar, perante uma situação de tame, lhe “oferecer” um suki falso, um engodo, uma abertura falsa na nossa guarda. Aquilo que aos olhos do opositor se apresenta como uma falha nossa é, na verdade, uma falha dele. Uma falha que vai significar a sua “morte”.

É caso para dizer que é uma maneira de ler as coisas.



*Não deixa de ser interessante mencionar que, no seu livro “Kendo”, Takano Sasaburo (1862-1950), um dos maiores teóricos do kendo moderno, se refere a sen-no-sen apenas como sen. Estão a ver a coisa?...

3.12.06

MAAI, HYOSHI E YOMI (2)

HYOSHI (ou Hyô-shi)

O Dicionário Japonês-Inglês de Kendo define assim o conceito de hyoshi: “Ritmo e fluidez de movimentos da espada ou do corpo; referente à respiração em sintonia com o adversário; intercâmbio de sensações entre o próprio e o opositor”.

Tendo em conta, e colocando em contexto, a sua inseparável ligação com o conceito de maai, será justo dizer que a correlação maai-hyoshi define-se como uma sequência de intervalos espacio-temporais produzidos pela actividade existente entre dois opositores e visível graças à cadência própria de cada um deles, a qual, por sua vez, está intimamente ligada à (dependente da?) respiração e condição física dos mesmos.

Parece-me que uma boa forma de tentar simplificar esta “complicação” toda é reflectir por uns instantes sobre a forma como, por exemplo, a idade (e a “disponibilidade física” que ela proporciona) interfere na relação entre dois combatentes.

Os números apontam para a seguinte teoria: quanto mais pequena é a distãncia de combate, maior é a vantagem dos combatentes mais jovens e portanto mais fortes e mais rápidos. Ou seja, quanto menor fôr maai mais hyoshi necessita de energia.

À medida que a distância aumenta, a necessidade de força e rapidez diminui.

As estatísiticas nos anos sessenta e princípios dos setenta, mostravam claramente que, em actividades como o Judo, onde o maai é mínimo, as carreiras dos campeões, EM GERAL, terminavam antes dos 30 anos. À medida que o maai se tornava maior, as idades também acompanhavam a tendência. No Sumo, os campeões duravam até entre os 30 e os 35 anos; no Kendo, os grandes reinavam até por volta dos 40 (Yamazaki foi campeão do Japão em 1969 com a bonita idade de 45 anos); já na Naguinata encontravam-se campeãs com idades bem para lá dos quarentas.

E se hyoshi está intimamente ligado à respiração e à condição física, yomi, pelo seu lado, está estreitamente relacionado com a experiência.

Quando a estas duas noções, maai e hyoshi, juntarmos a terceira, yomi, iremos inevitavelmente encontrar-nos frente-a-frente com um outro conceito denominado: sen.

Mas isso é conversa para o próximo post.

Abayo.

2.12.06

MAAI, HYOSHI E YOMI (1)

MAAI (ou Ma-ai)

A noção de maai é frequentemente traduzida pelos praticantes de artes marciais japonesas como distância.
Mas o facto é que a palavra maai é composta por duas outras palavras. E se a segunda, o verbo “ai”, se aplica para definir o encontro entre duas ou mais pessoas (ou objectos), já a primeira, “ma”, exprime não apenas distância, ou seja, um intervalo espacial entre sujeitos, mas também um intervalo temporal (podendo até ser utilizada para definir um momento de mudança de ritmo, por exemplo, numa música).

Ora bom, sendo assim e segundo este prisma, maai seria definido através de uma expressão semelhante a: “maai é o intervalo de espaço e de tempo, mas também o movimento de aproximação e/ou afastamento, existente entre dois opositores”.

Para entender melhor a importãncia de maai na prática diária, basta pensar em certo tipo adversários que aparecem de tempos a tempos e com os quais nenhuma técnica parece funcionar seja a que distância fôr.

De facto, o que se passa é que somos muitas vezes levados a pensar que, uma vez atingida a “distância” denominada como issoku-itto no ma (fig. 1), nos encontramos numa situação, tal como a expressão se auto-define de “um passo de distãncia” do adversário. E se eu estou a um passo de distãncia, nada mais natural que ele, o meu adversário, também esteja.



Fig. 1

Por outras palavras, estamos numa situação de “igualdade”, certo? Errado! Nada mais errado.

Issoku-itto no ma (aliás, tal e qual como chika-ma ou to-ma) deve ser uma distãncia subjectiva e individual. A denominação clássica tem muito mais a ver com a posição dos shinais do que com a efectividade técnica ou facilidade de execução que daí possa resultar.

Issoku-itto no ma, tal como nos é ensinada no kendo, é uma referência, mais que isso, diria que é uma convenção.

Não se “deixem levar” pela definição que remete para a posição das pontas cruzadas dos shinais. Esqueçam por uns instantes a imagem acima e imaginem um kendoka de um metro e noventa e oito de altura, enfrentando um outro com um metro e cinquenta e cinco.
É fácil perceber que “um passo de distância”, e mesmo com as pontas dos shinais na sua posição convencional, possa ser uma expressão que, nessa situação, resuma realidades extremamente diferentes para essas duas pessoas.

A ideia de maai está estreitamente ligada, diria até que é inútil, sem a compreensão dos conceitos de hyoshi e de yomi.


Por isso mesmo, no próximo post vamos falar de hyoshi que, em linguagem de kendo, remete para o ritmo e a movimentação, tanto do shinai como do corpo.


Abayo.

28.11.06

CAMPEONATO NACIONAL

Pois, lá se acabou mais uma época regular de torneios.

Este Torneio dos 24, como lhe costumo chamar, foi uma boa prova da vitalidade crescente que reina no (pequeno) meio dos praticantes de kendo nacional.

Os problemas (conhecidos dos meus fiéis leitores) ligados ao meu PC impedem-me de fazer a minha habitual e mui reflectida crítica e atribuição dos prémios Usagi San.
Prometo fazê-la assim que estiver na posse de um novo aparelhómetro informático (bem como ir roubar algumas fotos ao Frederico para a ilustrar, eheheh).

Para já, parabéns a todos os participantes.
Do local onde me encontrava tive ocasião de apreciar excelentes combates e a honra de assistir ao combate (massacre?) mais rápido da história do kendo nacional.

Enfim, gambate, como diz o outro.

21.11.06

LEIS DE MURPHY E O MEU PC

A 1ª Lei de Murphy diz claramente: "Se alguma coisa pode correr mal, (então) vai correr mal, de certeza."
Aplicada ao(s) meu(s) computador(es) a lei de Murphy sofre uma mutação e passa a enunciar-se da seguinte maneira: "Se alguma coisa pode correr mal, (então) vai correr TUDO mal, de certeza."

O meu computador morreu. F...-se.

NOTA: Um dia destes volto a postar regularmente... espero eu.

6.11.06

PROBLEMAS COM PC

Na próxima semana, pelo menos, não vale a pena passarem por cá à procura de novos posts. Este mesmo está a ser feito num ciber-café.
O meu PC pifou.
Over and out.

3.11.06

54th ALL JAPAN (MAIS)

Ipponme.
Mesmo os craques precisam de ver os "velhotes" a fazer kata.
O senhor da esq. (uchidachi) chama-se Masatake Sumi. Lembrem-se deste nome.

R. Uchimura (dir.) num momento do torneio...

... e o "rapaz" com a sua bela taça na mão.

54th ALL JAPAN KENDO CHAMPIONSHIPS

Que loucura! Olhem bem para isto.
Harada a perder com Takanabe nos oitavos... tch... loucura.

Decorreu hoje, como de costume no dia 3 de Novembro, o Campeonato do Japão de Kendo.
O resultado desta 54ª edição teve (como podem apreciar pelo diagrama do torneio) algumas surpresas.

Em 1º lugar:
R. Uchimura, de Tokyo, (2ª participação, godan)

2º - T. Furusawa, de Kumamoto (3ª participação, godan)
3º - S. Takanabe, de Kanagawa (4ª participação, godan)
3º - H. Toyama, de Aichi (3ª participação, rokudan)

Uchimura, que o ano passado se tinha classificado em segundo lugar, perdendo na final contra o seu Sempai da Polícia de Tokyo, Harada Sato, torna-se assim no primeiro kendoka de que há registo a ganhar:

O campeonato japonês de Kendo de Escolas Básicas;
O campeonato japonês de Kendo de Escolas Secundárias;
O campeonato japonês de Kendo de Universidades;
O campeonato japonês de Kendo da Polícia;
E, finalmente,
O campeonato japonês, ponto.

E é “só” godan.

2.11.06

PEQUENO DICIONÁRIO JAPONÊS-PORTUGUÊS (ÀS VEZES) ILUSTRADO DE KENDO - B

Battō (v.) 1. Desembainhar a espada. 2. Desembainhar o bokuto antes de executar kata. 3. Desembainhar o shinai antes de praticar ou competir.

Bō-gyo (v.) 1. Escapar a um ataque. (pode-se escapar de um ataque usando um bloqueio com o shinai, um movimento corporal ou ashi-sabaki.) 2. O acto de desencorajar um opositor de atacar através do uso de intimidação.

Bokken (subs.) Ver Bokutō.

Bokutō (subs.) Espada feita de madeira (normalmente de carvalho). / Também Bokken ou Kodachi.

Bu (subs.) 1. O significado original do símbolo chinês Bu é “marchar com a armadura na mão", ou "atacar em frente". 2. Referente a artes marciais/militares. Durante o período Edo, devido a uma grande influência do confucionismo chinês, o significado de Bu passou a ser traduzido como o resultado da junção de dois outros símbolos : hoko (arma) e todomu (parar) o que significaria "parar as armas", e desde então é visto como um símbolo de pacifismo.

Bu-dō (subs.) 1. Doutrina da classe militar japonesa. 2. Budō também se refere ao código de conduta militar e às artes militares, Bujutsu. 3. Hoje, a definição de Budō abrange as seguintes artes marciais: Kendō, Judō, Kyūdō, Sūmō, Naginata, Aikidō, Karatedō, Jū-Kendō e Shōrinji-Kenpō.

Budōjō (subs.) Ver Budō-kan.

Budō-kan (subs.) 1. Sala ou edifício destinado à prática das artes marciais. (Pode ser um centro que permita a prática de todas as artes marciais ou criado especificamente para uma só.) 2. A Fundação Nippon Budōkan é frequentemente designada aepnas por Budōkan. (Antigamente, o termo Budōjō era usado em vez de Budōkan).

Bu-gei (subs.) 1. Artes marciais/militares. (O símbolo chinês Gei implica uma preparação mental e física cultivation através de treino técnico). 2. As ideias relativas ao desenvolvimento mental e físico inerente às artes marciais.

Bugei-jūhappan (subs.) As 18 disciplinas diferentes que faziam parte do Bugei.

Bu-jutsu (subs.) Ver Bugei.

Bu-toku-den (subs.) A sala de artes marciais do templo Heian Jingu em Kyoto, construido pelo Dainippon-Butokukai.

Butokusai (subs.) Cerimónia e festival para o desenvolvimento das artes marciais. (Em 4 de Maio de 1899 (Meiji 32), o Butokusai teve lugar no Templo Heian Jingū. Com a fundação da All Japan Kendō Federation em 1953 (Shōwa 28) o festival renasceu e faz agora parte do Kyōto-Taikai que se realiza todos os anos na mesma data e locais).

Byō-ki (subs.) 1. Estado de saúde debilitada. 2. No Budō, focar a concentração apenas num determinado ponto, interrompendo a fluidez natural da energia e do espírito. (Quando um competidor perde fluidez ao preocupar-se apenas em ganhar, resultado de demasiada concentração na escolha das técnicas e de muita tensão; demasiada preocupação que impede a resposta natural durante o combate). Ver Shi-kai.

31.10.06

PEQUENO DICIONÁRIO JAPONÊS-PORTUGUÊS (LIGEIRAMENTE) ILUSTRADO DE KENDO - A


Eis a letra A. “A” como:

Agari (subs.) Apreensão ou nervosismo, p.e. antes da primeira experiência de competição ou antes de um torneio particularmente importante, que provoca perda de balanço mental e físico.

Age-gote (subs.) Golpe num dos pulsos do adversário (kote) quando as suas mãos se encontram elevadas acima da guarda Chūdan (mais exactamente, numa posição igual ou acima do mune-do).

Ai-chūdan (subs.) 1. Quando dois praticantes assumem a guarda Chūdan antes de um combate, prática ou kata. 2. A posição que se assume sempre que se começa ou recomeça um combate durante o shiai.

Ai-gedan (subs.) Quando dois praticantes assumem a guarda Gedan antes de um combate, prática ou kata.

Ai-jōdan (subs.) Quando dois praticantes assumem a guarda Jōdan antes de um combate, prática ou kata.

Ai-ki (subs.) Estado de sintonia com as sensações do adversário. Uma atitude complementar à do opositor. Durante um confronto é preciso manter uma atitude oposta à do adversário até ao último instante do combate; p.e. quando um adversário é forte devemos mostrar-nos fracos, quando ele é fraco devemos atacar vigorosamente. Este princípio denomina-se, em japonês, Ai-ki-wo-hazusu (evitar ai-ki). Visto que os combates de artes marciais são decididos quando o ki de um dos oponentes iguala o do outro, não estar em sintonia com o (ki do) adversário, será a base do sucesso num desafio. Ver Ai-ki-wo-hazusu.

Ai-ki-wo-hazusu (v.) Evitar situações de ai-ki. Atitude correcta durante um combate. Ver Ai-ki.

Aisatsu (subs.) Saudações e conversação de etiqueta, incluindo expressões de parabéns, agradecimentos e camaradagem. Etiqueta e respeito para com os colegas kendokas são aspectos importantes do kendo. Ver Rei.

Ai-tai-suru (v.) Enfrentar o adversário.. Ai-te (subs.) Designação do opositor em competição, prática ou Kata. Também Shiaiaite (adversário de competição) ou Keikoaite (adversário de prática).

Ai-uchi (n.) 1. Situação em que ambos os opositores conseguem yūkō datotsu (golpes válidos) simultaneamente. (Durante uma competição nenhum dos golpes é considerado válido, visto que anulam-se mutuamente). 2. Situação em que ambos os opositores falham simultaneamente yūkō datotsu.

Amasu (v.) Prever as intenções do adversário quando ele inicia uma técnica e recuar com calma e compostura (deixando algum espaço que o “convida” a prosseguir) e colocar-se assim numa posição de vantagem face ao mesmo.

Ashi-gamae (subs.) Posição dos pés; posição e relação entre os pés que permita responder instantaneamente aos movimentos do opositor.

Ashi-haba (subs.) Distãncia entre os pés quando em ashi-gamae Ashi-hakobi (subs.) Ver Ashi-sabaki.

Ashi-sabaki (subs.) Os quatro tipos de deslocação usados para atacar ou evitar um ataque: Ayumi-ashi, Okuri-ashi, Hiraki-ashi e Tsugi-ashi.




















Ataru (v.) Acertar, atingir o alvo.

Aun-no-kokyu (subs.) Respirar em sintonia com o adversário. Ao executar kata, estar em sintonia com o ritmo e as particularidades do colega. A letra “A”, de “aun”, significa expirar e “un” significa inspirar. Além disso, em Sânscrito, “a” é o primeiro letra/som e é dito com a boca aberta e “un” é a ultima letra/som do alfabeto e é dita com a boca fechada, juntas, simbolizam o princípio e o fim de todas as coisas.

Ayumi-ashi (n.) Tipo de deslocação no kendo, que permite percorrer maiores distâncias mais rapidamente. Ver Ashi-sabaki.

29.10.06

VOLUNTÁRIOS EURO 2007

Aí está.

Para os (muitos?) que se andavam a queixar nos últimos tempos que não sabiam como, e quando, se poderiam voluntariar para a organização do Europeu 2007, notícias frescas: o processo de voluntariado COMEÇOU.

Vão até ao site da Associação, www.kendo.pt, e lá podem preencher online a respectiva ficha de inscrição.
Tanta tanga, tanto blábláblá, agora vamos lá a ver quantos é que estão dispostos a dar o corpinho ao manifesto.

28.10.06

CORREIO KENDIMENTAL 1


Caro Correio Kendimental:

Quero comprar um shinai novo mas não percebo nada disto. Estou muito confusa com todos estes nomes que aparecem nos sites e nos catálogos dos vendedores.
Madake, chokuto, koban... as designações não faltam.
Afinal que tipo de shinais existem e como é que se pode saber o que é o quê?

Peço desculpa pela ignorância e por perguntar uma coisa que toda a gente sabe.

Ass.: Sonhadora do Dojo


Cara Sonhadora:
A sua pergunta é muito mais frequente do que pensa e há muito boa gente que não sabe nem sonha, como diria o outro.


Então, como diria um esquartejador, vamos por partes:
Os shinais, antes mais nada, dividem-se de duas maneiras distintas, consoante: o tamanho e o formato.

Assim, no que diz respeito ao tamanho, temos dois géneros: o daito e o shoto.
O daito é um shinai com um tamanho maior ou igual a 114 cm de comprimento.
O shoto é um daqueles shinais mais pequenos usados apenas pelos praticantes de nito-ryu e deve ter um comprimento menor ou igual a 62 cm.

E, no que ao tamanho respeita, estamos aviados.

Passemos então aos formatos do shinai.
Também aqui, existem apenas dois géneros de shinais: dobari e chokuto.
O dobari é mais largo junto da zona da tsuba e mais fino na zona mais extrema, próxima do sakigawa. O peso também é mais concentrado “atrás”, junto do punho.
O chokuto, esse, é mais uniforme no formato e o peso também é dividido mais uniformemente por todo o corpo do shinai.

Como viu não é nada difícil. Há uma outra designação que aparece por vezes nos catálogos de material e que é koban.
Koban significa apenas que o shinai em causa, que pode ser dobari ou chokuto, tem uma tsuka de formato oval, mais nada.

Tudo o resto que ler ou ouvir acerca de um shinai não são características intrínsecas do mesmo, mas possivelmente de materiais e técnicas de fabrico; por exemplo, um shinai madake, é um shinai fabricado com um tipo de bambú japonês de alta qualidade chamado, curiosamente, madake; se ouvir alguém dizer que tem um hasegawa, isso quer dizer que é um shinai feito em fibra de carbono, etc, etc.

No que diz respeito à sua utilização, um dobari é (normalmente) mais aconselhado para competidores, enquanto o chokuto é o preferido de muitos senseis mais avançados para os quais a componente competitiva já não tem grande valor.

A maior parte dos shinais que se pode comprar no mercado não especializado, chamemos-lhe assim, sport-zones e decathlons e quejandos, são misturas (maiores ou menores) dos dois tipos referidos; embora frequentemente estejam mais próximos do chokuto que do dobari.

E agora, cara sonhadora, compre lá o shinai, menos sonhos e mais keiko.


Caros leitores, se desejarem saber alguma coisa sobre os fait-divers do kendo façam como a "Sonhadora do Dojo" mandem um e-mail para IMDRabbit@hotmail.com, escrevam CORREIO KENDIMENTAL no subject da mensagem e exponham o vosso problema ou dúvida. Desde que tenha a ver com kendo, a redacção do blog fará tudo o que for possível para responder às vossas questões (nem que para isso se recorra ;-) ao Sensei Osaka, claro).

26.10.06

UM "NOVO" FORUM DE ARTES MARCIAIS

Já não é assim tão novo quanto isso, mas ainda está a arrancar.

Trata-se do forum criado pela e-bogu Portugal e pretende ser o local de encontro dos praticantes de artes marciais nacionais.
É um bom local para mandar uns "posts de pescada" sobre temas tão variados como kendo, karate, iaido, aikido, jogo do pau e muito mais.

É assim como ir ao café num centro comercial.
Fala-se, discute-se e depois, se assim se desejar, pode-se ir fazer umas compras.

A e-bogu foi criada pelo sensei Taro Ariga (kendo rokudan) e é um dos maiores fabricantes/vendedores do mundo de material para artes marciais e não, não me pagaram nada para colocar este post aqui.


http://forum.e-bogu.com.pt/

Ah, e parece-me que ainda estão à procura de moderadores para certas artes marciais.

KENDO DO OUTRO MUNDO


Umas asinhas e era um anjinho perfeito.

Eis a prova, se dúvidas houvesse, que até as entidades divinas praticam kendo.
Esta foto faz parte do portfolio do Fred e pode ser encontrada, e mais uma data delas, aqui:


http://flickr.com/photos/frederico/270405508/in/set-72157594329583311/

25.10.06

14º WKC NO BRASIL

" Blade Runner tropical"

Ainda o 13º Campeonato do Mundo de Kendo não arrancou e já se fala acerca do 14º, que deverá ter lugar, segundo as normas da Federação Internacional de Kendo, num país do continente americano.

Até ao ano passado o grande pretendente a hospedar o campeonato de 2009 era o Hawaii, no entanto, a federação local "roeu a corda" algures durante o segundo semestre de 2005 e desistiu do evento.

Como se diz, "chegaram-se à frente" os brasileiros. Segundo as fontes deste blog, geralmente bem informadas e colocadas ao mais alto nível na European Kendo Federation, consta que a Confederação Brasileira de Kendo aceitou acolher o campeonato depois de um acordo ter sido atingido com, nomeadamente, a Federação Americana que deverá ajudar a custear a coisa.

Ora aí está uma bela ideia! Devíamos fazer o mesmo com a federação europeia a respeito do próximo europeu de Lisboa. Ou então, pelo menos, "chulávamos" os espanhóis, que estão aqui mesmo ao lado. Ah, queres campeonato? Então, nós fazemos mas TU tens de NOS pagar.

Enfim, brincadeiras à parte parece que é definitivo, os 14ºs WKC terão lugar em S. Paulo em 2009.

Pelo menos, e mais que não seja, come-se bem. Para além disso, não estou assim a ver grandes atractivos mais...

24.10.06

A “ESPADA SAMURAI”

Ontem começou a semana das artes marciais do National Geographic Channel.
O trabalho de abertura dedicado à katana foi, acho que lhe podemos chamar assim, sofrível.

Quando é que alguém se irá decidir a fazer um documentário DECENTE sobre a espada japonesa? Que raio, nem a National Geographic?
É que, por um lado, a reportagem até se debruça de uma maneira competente e extremamente interessante sobre a concepção e criação da espada por parte de um dos actuais ferreiros ainda em actividade.

Mas por outro, tudo o resto, o envolvimento e suposta explicação das origens e da mística da katana, descambou irremediavelmente (?) numa imitação pobrezinha (e em “câmara-lenta”) das séries de TV japonesas de chambara*.


Se tirarmos as encenações historico-irrealistico-foleiras, alguns tame-shigiri bastante merdosos e o número de circo em que a filha atira setas contra o pai, o qual se defende usando apenas a espada, pouco tivemos que valha a pena.

Mas felizmente ainda tivemos.
Um dos segmentos do documentário apresentava um excerto minúsculo de um keiko de iai bastante interessante.

Foi pena, porque a parte da feitura da espada até foi gira e merecia um bocadinho mais de “trabalho” à sua volta.

De resto, mal posso esperar pelo monge do kung fu em Nova Iorque e pelo especial sobre Armas Chinesas do kung fu que dão continuidade a esta “semana” das artes marciais.

Estou aqui que não me aguento.

P.S.: Não existe nenhuma, como os comentadores portugueses no programa frequentemente referem, “espada samurai”. Provavelmente, é só mais uma das excelentes traduções com que somos diariamente brindados nos canais-cabo. “The samurai sword”, em inglês, significa “a espada DO samurai”.
Porque como o possessivo “apóstrofo+s” não se aplica se a palavra seguinte começar, também ela, por “s”, quando os comentadores americanos convidados dizem “the samurai sword” (e não, claro, “the samurai’s sword”), o que querem dizer é “a espada DO samurai”.

Samurai, que eu saiba, não é nenhuma marca ou tipo de espada. Cretinos.

*Aventuras de samurais.


22.10.06

MEN (BY PLAYMOBIL?)

Andava eu a "dar umas voltinhas pela net" quando me deparei com um filminho muito interessante. Nele, e durante uma demonstração na Coreia, um grupo de jovens apresentam-se equipados com um “men” completamente diferente do habitual.
A demonstração, perfeitamente normal, não teria nada que valesse a pena comentar, não fosse a presença daqueles “novos” equipamentos de protecção.
Fiquei curioso e como sabia que alguns dos membros do forum kendo-world são praticantes coreanos e “coreano-descendentes”, na esperança de obter mais informações sobre o material em causa, coloquei um post no dito forum.
O resultado resumiu-se a 12 páginas de polémica, ofensas e “gritos”.
Não querendo repetir aqui o “feito”, aqui deixo, no entanto, o link para o filme em causa:
http://www.youtube.com/watch?v=pfoNFXnN7zQ
Para além de parecer um "capacete" criado para os bonecos da Playmobil, digam vocês de vossa justiça.

Eu, por acaso, até gosto...
... mas gosto mais dos actuais... acho eu.

19.10.06

O “KEN“ É FÁCIL DE SE VER; ONDE É QUE ESTÁ O “DO”?

ou

Os devaneios de um kendoka quando impossibilitado de praticar.

O “ken” do kendo, creio que todos concordarão, está à vista. Com maior ou menor dificuldade todos conseguimos aperceber, pelo menos, o que é necessário para que o “ken” seja praticado.
E todos os que praticam, do mesmo modo, com maior ou menor dificuldade, serão unânimes em concordar que, bem vistas as coisas, o “ken” é até bastante limitado e não é, digamos, nada do outro mundo.
Se tivermos em consideração que, independentemente das “variações” migi, hidari, morote e katate, temos à nossa disposição, basicamente, apenas quatro ataques diferentes, o “ken” não surgirá aos nossos olhos como uma actividade muito complexa ou elaborada.


Para não falsear a informação, podemos até ser um bocadinho mais exigentes e juntar à “lista técnica” os diferentes grupos de técnicas de bloqueio e antecipação.
Assim, temos: oji-waza e debana-waza... ah e, já agora, também hiki-waza, claro; e assim... de utilização frequente... pouco mais temos.


Para comparar com o judo por exemplo, digamos que, no capítulo das projecções, sem contar com imobilizações no solo e estrangulamentos, a arte de Jigoro Kano deve ter o dobro ou o triplo dos ataques do kendo, se calhar mais.

Mas porque é que uma coisa, aparentemente, assim tão simples é, na realidade, tão difícil? (parece-me que já perguntei isto antes) Acho que a resposta se encontra na parte que falta da palavra kendo.
Na sílaba “do”. Senão, vejamos, é tudo um problema de perspectiva:

“Ken” é o shinai, é o waza que o shinai executa. “Ken” é jutsu, é o melhor ou pior domínio de cada waza. “Ken” é o corpo, o espaço e as deslocações do corpo no espaço. Certo?
“Ken” é shiai (absolutamente!!!).

“Do” é tudo o resto. “Do” é o que não se vê. É rei-ho, zanshin e kigurai; “Do” é ki, seme, kizeme, tame e, em último caso, sutemi-no-itto (será? parece-me que sim). Correcto?
“Do” é kata (será???).

“Ken” é o que se vê. “Do” é o que se sente (esta gosto, saiu bem...).

Sem “do”, o “ken” não passa de uma série, mais ou menos bonita conforme o executante, de habilidades e malabarismos.
Mas por seu lado, sem “ken”, o “do” não passa de um amontoado de conceitos vagamente filosóficos mas completamente inúteis.

Os dois não podem passar um sem o outro, estão condenados a complementar-se.
Afinal, de que serve existir um caminho se não existir um corpo para podermos caminhar? Por outro lado, de serve saber caminhar se não existir um caminho? (muito filosófico, hein? Faz-me lembrar aquela da árvore que cai na floresta e se ninguém... hum... enfim... adiante)

A falta de um dos dois elementos leva inevitavelmente ao desequilíbrio do praticante, tal como, aliás, este post faz prova ;-).

17.10.06

SELECÇÃO NACIONAL 2006

Esq. p/ dir.:
Paulo Martins, Nuno Ricardo, Luis Sousa, Henrique Martins, Sérgio Andrade.

Eis finalmente uma fotografia de conjunto da selecção que vai representar o nosso país em Dezembro deste ano em Taiwan. O torneio não vai ser fácil para nenhum deles, mas o essencial é termos a certeza que, quaisquer que sejam os resultados, não nos envergonharão.

Gambatte.

16.10.06

TERMINATOR


Com o seu ar sempre despachado, eis o Joni (The Terminator) em acção, a terminar um daqueles seus combates que duram à volta de 18 segundos e meio. Sete segundos para preparar e marcar cada ippon e mais seis segundos e meio de conversa para o árbitro começar, validar os pontos e acabar o combate.
Adversário, sejas lá quem fores, agora não digas que não levaste.
Esta é apenas uma das trinta e tal fotos do Frederico que pode encontrar em: http://flickr.com/photos/frederico/270405508/in/set-72157594329583311/

15.10.06

OS ELEITOS 2005/2006

Os Eleitos

Eis então os vencedores da Eleição 2005/2006 exibindo os seus diplomas de mérito:

Esq. para dir.:
Joni Duarte (Menção Honrosa: O mais votado mas que não ganhou coisa nenhuma) ;
Nuno Ricardo (Kendoka do Ano);
Rui Araújo (Kendoka Revelação).

Esta foto foi subrepticiamente roubada da página que o Pedro criou de propósito para afixar todas as que tirou durante o Torneio de Lisboa 2006 e podem/devem ser vistas aqui: http://torneiolx06.blogspot.com

ERRATA

Claro que isto, já se sabe, vai acontecer cada vez mais, afinal, a idade não perdoa e ninguém está a ficar mais novo.

Muitas horas a arbitrar+senilidade= asneira.

Relativamente ao último post, e acerca dos campeonatos que faltam nesta temporada, é lógico que o próximo evento NÃO É o campeonato de "repescagem" para as últimas posições na selecção nacional.


É sim, obviamente, e conforme o estipulado no Regulamento Interno para Competições e Selecção Nacional da Associação Portuguesa de Kendo, o torneio dos 24 melhor classificados que proporciona um lugar directo na selecção aos dois colocados no topo da tabela.

Depois sim, teremos o então referido apuramento final com os dez melhores do ranking nacional para definir os quatro lugares restantes da selecção.
Apuramento que, como se lembrarão, se realiza num torneio "à japonesa", em que cada participante têm de fazer nove combates, ou seja, todos contra todos.

Pronto, está feita a emenda.

Sumi masen, sumi masen.

14.10.06

TORNEIO DE LISBOA 2006 (INCLUI USAGI SAN AWARDS)

Pois, mais um que já lá vai. Decorreu hoje e os resultados oficiais foram os seguintes:

Classif.: Nuno Ricardo
Classif.: Paulo Martins
3ºs Classifs: Sérgio Andrade e Henrique Martins

Fighting Spirit: Pedro Marques e Valdemar Domingos

E agora, os resultados oficiosos, os "famosos" Usagi San Awards:

Fighting Spirit Award:
Tiago Veiga (o espírito estava lá todo, só faltou descernimento técnico)
Frederico Martins (idem idem, aspas aspas)

Technical Award:
Joana Almeida (o melhor de-gote executado esta tarde na área da Junta de Freguesia do Alto do Moinho)

Quatro Prémios Variados:
Começamos com um prémio que poderia chamar-se Prémio Teimosia E Presunção, ou então, Prémio Queria Tanto Marcar Debana Kote Mas Ninguém Me Compreende e vai para 85% a 90% dos participantes deste torneio.
Passamos para o Prémio Porra, Porra, Porra, Que Os Meus Hiki-Do São Tão Bonitos Porque É Que Não Marcam??? e esse vai para o nosso campeão do dia, Nuno Ricardo.
Mais um prémio, este para o segundo classificado da geral, o Paulo Martins, e é o Prémio Lá Te Safaste Finalmente E Marcaste Um Hiki-Men Mas Ainda Nem Sabes Muito Bem Como É Que Foi.
Para acabar em beleza, surge por fim o Prémio Árbitro-Ladrão, Estás A Dormir Durante A Competição De Equipas, Ou Quê? vai para mim e para o Nuno Serrano pela fantástica gaffe que cometemos ao atribuir o Ippon ao Joni, quando Sérgio tinha o shinai encostado ao tsuki-dare do dito.

E com este torneio terminou mais um "calendário regular" da APK. Resta agora apenas o Torneio de "repescagem" para saber quem serão os últimos escolhidos para a selecção que representará o país nos Campeonatos Europeus de Abril, que decorrem como se sabe, cá em Lisboa.

Neste torneio foram, por fim, entregues os Prémios Kendoka do Ano e Kendoka Revelação referentes à época 2005/2006.
Uma iniciativa deste vosso escravo que contou com o apoio enérgico da direcção da APK (e o apoio involuntário da Joana Faria, directora de arte e amiga que trabalha Y&R - Red Cell).

E os vencedores foram (eleitos pelos seus pares):

KENDOKA DO ANO:
NUNO RICARDO

REVELAÇÃO:
RUI ARAÚJO

Menção Honrosa:
(o mais votado no conjunto das duas categorias mas infelizmente não ganhou nenhuma)
Joni Duarte

Assim que possível serão publicadas aqui as fotos com os vencedores.

Até lá... keiko, mais keiko.... e depois keiko.

Abayo.

12.10.06

A AVE RARA 3

Ora aqui está um "rapaz" que teria dado um excelente kendoka.
Kamakura 2005. Foto Usagi San.

Ave ainda mais rara que o Kendum Principiantis, o Kendokam Intermedius (Vulgo: Kendoka Regular) é aquele que não desistiu e, de entre os cinco ou seis que ao mesmo tempo consigo começaram, o único que continuou a treinar.

E o Kendokam Intermedius pode ser a chave para entendermos todo este processo. Apesar de ter percebido que o kendo não lhe vai trazer quaisquer benefícios materiais ou reconhecimento social, não lhe vai (provavelmente) servir como meio de auto-defesa e também não faz dele, com certeza, nenhum Tom Cruise (ou uma Uma Thurman), apesar de tudo isso, há (ou houve num determinado momento do keiko) algo que diz ao Kendokam Intermedius que deve continuar a praticar.

Abro aqui um pequeno parêntese para vos contar uma história: um dos kendokas que eu mais admiro no dojo de Lisboa é o Jaime. O Jaime já não é nenhum jovem e nos primeiros dias em que o vi no dojo, reparei que ele tinha algumas dificuldades no capítulo de condição física. Olhei para ele e “dei-lhe” um mês. Há tantos meses que isso foi. O Jaime percebeu o que queria do kendo, recebeu o seu kendo-gu e todos os dias treina para atingir os seus objectivos.
Não tem a mania dos samurais e, que eu saiba, não vai ser protagonista de nenhum “Kill Bill 3”.
Eu não sei o que ele retira do treino de kendo, mas ele sabe.
E, dito isto, fecho o parêntese.

O semiólogo Roland Barthes, no seu livro A Cãmara Clara, refere-se à fotografia como algo que não pode existir por si só. Para ele, a fotografia em abstracto não existe. Só existe fotografia quando se fotografa algo, quando há um sujeito (mesmo que esse sujeito possa aparentemente ser abstracto).
Acredito que algo de semelhante se passa com o kendo.

Kendo keiko desu.

Não há kendo abstracto. Tal como para Barthes a fotografia não existe sem o objecto fotografado, o kendo não existe sem a sua prática. A compreensão do kendo não se transmite teoricamente, mas sim única e exclusivamente através sua prática.
É por isso que, para mim, fazer mitori-geiko, por exemplo (como tenho feito nos últimos tempos devido à minha tendinite), só faz sentido se existir uma perspectiva de keiko no futuro.
É claro que se pode falar, ler, reflectir, discutir sobre kendo, etc, mas, em última análise, se não houver uma aplicação prática posterior acerca do que se falou, leu, reflectiu ou discutiu, então, na minha opinião, tudo isso não serviu rigorosamente para nada.

Pois a verdade é que kendo É keiko.
E o objectivo é fazer com que o keiko de hoje seja melhor do que o de ontem. Nesse sentido, o kendo não tem outro motivo senão ele próprio. E é isso que é difícil de compreender e, mais ainda, de explicar, por exemplo, a um principiante.
Como é que se explica que o objectivo do treino de hoje é permitir treinar melhor amanhã?

Fazer kendo, e continuando no espírito de R. Barthes, é como fazer todos os dias um auto-retrato. Uma foto que deve evoluir e modificar-se a cada treino.

Eu parece-me que a competição, sobretudo para os mais jovens, pode ser uma boa maneira de os levar a entrar nas vizinhanças do kendo, digamos assim. É muito interessante, pode ser importante mas, no entanto, não creio que seja essencial para a formação de bons kendokas.

A meu ver, mais tarde ou mais cedo, e uma vez terminada a carreira como desportista, esse hipotético praticante, tal como todos os outros, vai ter de fazer a mesma escolha que consiste em continuar a treinar ou não. Já não pelas medalhas, mas tão só pelo prazer que o treino em si próprio proporciona e, claro, por outro lado, pelo esforço, agora já não “recompensado”, que tal decisão acarreta.

Estamos inevitavelmente diante da diferença entre desporto e budo. Esse praticante (dedicado, até aí, ao “desporto-do-kendo”), de certa maneira, ainda não começou a fazer budo. Ganhar ou perder pode ser muito importante, mas os tempos em que o uso da espada culminavam de forma dramática com “um gesto, uma vida” já lá vão, logo, ninguém deve ficar dermasiado satisfeito consigo próprio só porque ganhou um combate.
Até porque a competição hoje é mais uma demonstração de “jutsu” (técnica), chamemos-lhe assim, do que propriamente de “do” (via).

Mas qual é então a utilidade do kendo?
A resposta é muito simples: Melhorar. Para, ao aprofundar a dimensão simbólica do conflito, melhor o entender e daí retirar eventuais lições para a vida do dia-a-dia. Para melhor nos dar a conhecer a nós próprios. É isso afinal, a que O Objectivo de Praticar Kendo da ZNKR se resume.

O kendo é um auto-retrato que pode contribuir para revelar de uma maneira simples mas cruel, muitas das nossas insuficiências, por isso, um bom kendoka é um falhado magnífico.
É alguém que reconhece (e aceita) as suas falhas e compreende que o mais importante é tentar corrigir pacientemente essas insuficiências e apostar constantemente na formação de um "eu" que seja, ao mesmo tempo, física, intelectual e socialmente melhor.
Um keiko de cada vez.

8.10.06

A AVE RARA 2

Em 1975, a Federação Japonesa de Kendo criou o Conceito Oficial de Kendo e o Objectivo da Prática e “pôs no papel” aquilo que o kendo é, idealmente, suposto ser*:

O CONCEITO DO KENDO
Disciplinar o carácter humano através da aplicação dos princípos da katana.

Acerca deste aparentemente simples parágrafo, por exemplo, muitos são os que ultimamente têm manifestado as suas dúvidas e reticências sobre o que significa exactamente, em pleno século XXI, a expressão “aplicação dos princípos da katana”. Até porque, como dizem os seus críticos, o kendo não é uma arte marcial assim tão antiga como isso e nos últimos cem anos sofreu bastantes modificações, tendo em vista torná-lo mais acessível e socialmente aceite.

E se o Conceito Oficial de Kendo, demasiado vago (quais são:”os princípios da katana”’?), não é de grande ajuda para que os principiantes, eventualmente os mais curiosos, possam saber o que esperar quando se iniciam na prática da modalidade, o Objectivo da Prática, por seu lado peca, na minha modesta opinião, por aparentemente não se tratar de mais do que uma interessante declaração de boas-intenções:

O OBJECTIVO DE PRATICAR KENDO
Moldar a mente e o espírito,
cultivar um espírito vigoroso
e, através de um treino correcto e exigente,
esforçar-se para melhorar na arte do kendo.
Estimar a cortesia humana e a honra,
associar-se com os outros com sinceridade
e buscar sempre o auto-melhoramento.
Isso permitirá que se possa:
Amar o seu país e a sociedade,
contribuir para o desenvolvimento da cultura
e promover a paz e a prosperidade entre os povos.

E é tudo o que há para se dizer quando a pergunta surge de novo, cada vez mais incómoda:
Afinal para que serve ou o que se ganha em treinar kendo?

Quando se começa a treinar kendo tudo é anti-natural.
Cada gesto, por mais pequeno que seja, é um desafio físico e intelectual gigantesco. E a cada tentativa executada, os erros, em vez de serem gradualmente eliminados, parecem antes acumular-se. Situação que, aliás, e diga-se a bem da verdade, se mantém durante toda a vida do praticante.
Ao fim da primeira semana de treinos, 90% dos principiantes já tem bem estampada no rosto uma questão que, por mais que tente, não lhe sai da cabeça e que pode ser elaborada mais ou menos assim: “Mas o que diabo estou eu a fazer aqui?

Por esta altura, qualquer pessoa menos familiarizada com o treino típico do kendo, deve estar a perguntar-se que raio se passa de errado com a metodologia do mesmo.
Bom, não sei responder a essa pergunta. Mas quanto à outra, a primeira, tenho uma ideia ou duas que gostava de partilhar convosco.

E, a meu ver, até é bastante simples.

(Conclui no próximo post: A AVE RARA 3 ou O Kendokam Intermedius)

*Retirado do site da Zen Nippon Kendo Renmei

5.10.06

A AVE RARA 1

Como as imagens do Kendum Principiantis são raras (e muitos caras)
optou-se pelo uso de uma imagem de um Pássaro-Dodo.

O Kendum Principiantis (nome vulgar: principiante de kendo) é uma ave muito peculiar e tão poucas vezes avistada que é frequentemente tida como extinta.

Em certas épocas porém, como aquela que atravessamos, e que corresponde ao fim do verão e início do ano lectivo, ou por vezes por voltas de Janeiro (resoluções de ano novo?), o principiante de kendo faz a sua aparição nos dojos.

Um especimen de cada vez, timidamente, pequenos grupos de Kendum Principiantis atravessam a porta de entrada com aquele ar reveledor de um misto de curiosidade, receio e desejo.
Nos seus olhinhos inocentes não consigo ainda, na maior parte das vezes, e ao fim de tantos anos, vislumbrar o motivo que os levou até ali.

Já (mais do que?) uma vez “filosofei” neste blog acerca dos motivos que levam o português “comum” a embarcar numa aventura exótica como é começar a praticar kendo e não o vou fazer mais uma vez agora. Mas como estamos a atravessar uma fase de concentração de Kendum Principiantis gostaria, no entanto, de reflectir um bocadinho acerca destas fascinantes criaturas. Perguntas como “o que os faz entrar nos dojos de kendo?” ou “porque permanecem tão poucos?” são aquelas que mais imediata e forçosamente surgem.

No entanto, depois de apenas alguns momentos de reflexão, as respostas, como sempre, aparecem simples, óbvias e plenas de uma verdade dura e incontornável. E a grande verdade é que o Kendum Principiantis, na maior parte dos casos, não sabe ao que vai.

Desde os últimos samurais, kill bills e zatoichis do cinema até à manga como os rurouni kenshins e vagabonds, passando por documentários do discovery channel, mais ou menos mal paridos, e personagens de role-play, os motivos que levam o principiante de kendo até ao dojo são os mais variados. O brilhozinho nos olhos da paixão pelo exótico e pelo desconhecido, tão bem camuflado no princípio, demora pouco, no entanto, a transformar-se, na maior parte dos casos, numa expressão de desapontamento bem visível agora em toda a face.

O kendo, que parecia um ser acessível e fácil e simples, é afinal um/uma amante exigente e rigoroso/a. Uma entidade que, afinal, exige muito quer fisíca quer intectualmente e que APARENTEMENTE retribuiu muito pouco ou nada.

Ao contrário de muitas outras artes marciais no kendo, por exemplo, não há “cintos”. A típica “cenoura” que incentivaria o Kendum Principiantis a “puxar o carro” não está lá. Tradicionalmente, as graduações de kyu são teoricamente existentes mas, na prática, irrelevantes. O primeiro momento de verdadeiro teste é, para a grande maioria, o exame de shodan*, depois de, no mínimo e com sorte, um ou dois anos a treinar “sem recompensas”.

E a treinar o quê? À primeira vista, uma arte marcial sem quaisquer objectivos práticos.

Um anacronismo total e absoluto. Ou não?

(CONTINUA)
* Nalguns locais, no entanto, os exames de kyu são feitos e parece terem cada vez mais adeptos. Mas mesmo nesses lugares, não há a prática do uso de cintos de cores.

3.10.06

SORTEIO INDIVIDUAIS 13º WORLD KENDO CHAMPIONSHIPS

Cá está, cá esão eles. Agora é muita oração a Nossa Senhora do Caravaggio

Na competição individual a coisa TAMBÉM está linda: o Paulo e o Sérgio, sobretudo, foram "brindados" logo com um japonês cada um, na 1ª volta.

Malta, divirtam-se. Que inveja.

SORTEIO EQUIPAS 13º WORLD KENDO CHAMPIONSHIPS

Quem será o infeliz que vai este ano levar com o Cris Yang?


Eis finalmente o sorteio das pools para os 13ºs Campeonatos do Mundo.
Portugal apanha com os cámones e os americanos logo na primeira ronda.
A grande vantagem é que da "nossa" pool saem dois classificados. Com os americanos não há nada a fazer, portanto, "só" têm de ganhar aos bifes e passam logo à segunda ronda.

28.9.06

BREVE SINOPSE DA HISTÓRIA DO KENDO MODERNO

Depois de muito trabalho tenho o prazer de anunciar que estará em breve disponível no site da revista kendo-world (www.kendo-world.com) a principal responsável pela tendinite que actualmente me aflige.
Trata-se da tradução para português do excelente artigo da autoria do Dr. Alex Bennett intitulado "A Brief Synopsis of the History of Modern Kendo".
Dez páginas de pura informação, alguma dela inédita, sobre o kendo desde a Restauração Meiji até aos nossos dias.

Quando eles mudarem o visual da página. Em breve.

26.9.06

EIGA NAOKI



Vale a pena ir ver e fazer o download de cada uma das 4 partes em que este documentário, produzido pela NHK, está dividido.
É um documento sobre a "vida e obra" de Eiga Naoki, Campeão do Mundo em 2000 (individuais e equipas em LA) e em 2003 (equipas em Glasgow).
Claro que não é nenhum Miyazaki Masahiro (mas isso mais ninguém é, senão o próprio) mas, a sério, é muito bom. Mesmo.

Sigam até:
http://www.yorku.ca/kendo/cgi-bin/board/board.cgi?id=Kendo&action=view&gul=655&page=2&go_cnt=0

e toca a descarregar e a curtir.

Ah... e durante o documentário, quem conseguir ver-me e ver o Nuno Serrano e o Paulo Martins ganha um doce.

19.9.06

STOP

Esta NÃO é a minha radiografia, só achei que ficava bem como ilustração.
Mas é muito parecida.

Desta vez é que é.
Este blog vai ter mesmo de ficar suspenso durante uns tempos.
O meu rico ombro direito pifou de vez. O médico ordenou-me pelo menos 5 metros de distãncia de teclados de computador.
Medicação, fisioterapia e, em último caso, operação serão os meus únicos keikos para o futuro mais próximo.
Divirtam-se. Vemo-nos por aí.

12.9.06

O KENDO É LINDO.

A vertente desportiva do kendo é, a meu ver, uma das mais interessantes formas de demonstrar a vitalidade (ainda) existente nesta incrível actividade de que tanto gostamos.

A foto acima refere-se aos 23º Campeonato Japonês Inter-regiões de Kendo para "Donas-de-casa", que se realizou no Budokan deTokyo a 17 de Julho de 2006.

Quantas outras artes marciais se podem orgulhar de semelhante coisa?

Da competição que, creio, só se realiza por equipas, ficam para a história deste budo verdadeiramente adulto, os seguintes resultados:

1º lugar: Mie
2º lugar: Tokyo-A
3º lugar: Kagoshima and Fukuoka

Fighting Spirit: Gifu, Saitama, Osaka and Hiroshima

Cada vez gosto mais de kendo.