18.4.05

UM PERITO EXCEPCIONAL, SHUTARO SHIMOÉ

Afinal, quem era Shutaro Shimoé, o perito que recomendou Takaharu Naîto para a polícia de Tóquio? Basta ler. Aqui, ou em http://www.tokitsu.com.

Shutaro Shimoé nasce em 1848, numa família de mestres da espada. Aos 11 anos entra no dojo de Eîjiro Chiba e, aos 19, torna-se chefe dos discípulos (juku tô) do dojo Genbukan, o dojo central da escola Hokushin-itto-ryu. Tornar-se chefe dos discípulos do Gembukan com a idade de 19 anos é prova de um talento excepcional. S. Shimoé foi um dos grandes peritos da época Meiji. Mas ele considerava a sua arte da espada como uma coisa pessoal e treinava, no dojo, mas para si mesmo, sem se preocupar em formar alunos. As suas capacidades eram reconhecidas e respeitadas por todos os mestres da polícia. Entrar na prefeitura de polícia com uma recomendação de Shimoé equivalia a ter a melhor menção possível no diploma.
A propósito de S. Shimoé, escutemos Shigéyoshi Takano (1876-1956), filho adoptivo de Sazaburo Takano: “Nessa época o mestre Shimoé já tinha mais de 60 anos... na manhã da minha chegada ao seu dojo, recebi a primeira lição. O mestre era grande e media perto de um metro e oitenta. Num canto do dojo estava colocado um tapete molhado. O mestre humedeu os pés ligeiramente antes de começar o treino.
Diz com uma voz baixa: “Vou-lhe acertar um pequeno tsuki, está bem?” e acerta-me um tsuki dizendo “atingido com um pequeno tsuki.”
Mas não foi nenhum “pequeno tsuki”. Esse “pequeno” era tão terrível que quando se recebia um desses “pequenos tsuki” não se conseguir nem engolir saliva durante dois ou três dias. O tsuki só com uma mão (katate-zuki), sobretudo, era a grande especialidade do mestre e ele não amortecia a técnica de forma nenhuma. Depois de me ter dado a sua especialidade, foi de novo humedecer os pés no tapete, ao canto do dojo e voltou para mais uma lição.
E previne-me: ”Desta vez vou atacá-lo a partir da guarda jodan da escola Yagyu-ryu." Trata-se de um ataque ao kote (pulso) a partir da guarda alta. O ataque é muito lento e consigo vê-lo bem. Mas recebo na mesma um golpe fulgurante. Era como se o seu shinai se viesse colar ao meu kote como um vampiro. Sinto uma dor percutante e o mestre então diz: “Acabou de perder o pulso.” Depois, foi de novo molhar os pés. Quando lanço o meu ataque à cabeça (men) na esperança de acertar ao menos uma vez, ele ataca o meu do (flanco) em “nukidô” dizendo: “Eu fico em vantagem, assim.” Então sinto, por debaixo da armadura, feita de bambú e de couro, uma dor que me atravessa o flanco como uma lâmina. As suas mãos eram de tal forma hábeis e precisas (té no uchi) que um golpe aparentemente negligente ganhava uma eficácia terrível.
Depois vai, mais uma vez, molhar os pés. Eu não consigo fazer nada. O meu shinai não toca o seu corpo uma única vez... o mestre Kadona, perito de grande reputação em Quioto, dizia também ele: Nunca consegui tocar o corpo do mestre Shimoé com o meu shinai...”
Mestre Shimoé entendia que a sua arte era apenas para si e nunca tentou formar alunos. Mas as suas capacidades eram únicas...”

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