18.11.05

ACERCA DE TSUKI, MUKAE-ZUKI E KÔBÔ-ICHI


Facto nº 1Tsuki é uma técnica válida, tão válida como men ou kote;
Facto nº 2 – Tsuki é muito mais difícil de executar do que men ou kote;
Facto nº 3Mukae-zuki não é uma técnica válida.
Facto nº 4Mukae-zuki é uma maneira clara de declarar incapacidade de fazer frente ao seme do adversário.
Facto nº 5 (e último) – Mukae-zuki não é o mesmo que tsuki.

Costumo dizer logo nos primeiros treinos, às pessoas que começam a fazer kendo, que “os segredos” do kendo são dois: a) - a mão esquerda é que faz força e b) – seja qual for o ataque que se faça, essa mesma mão acaba sempre ao centro.
Não é exagero dizer que um combate de kendo começa com uma batalha pelo domínio da linha central e acaba quando um dos participantes cede esse domínio ao adversário. É tão simples quanto isso.
Ora, na busca de obtenção desse domínio, muitas técnicas foram criadas.: harai, kaeshi, suriage, enfim, técnicas “positivas” de controle do centro do combate. Uma das que não entra nessa denominação consiste em, durante um ataque do adversário, aproveitar o facto de o kensen se encontrar ao centro e intencionalmente esticar os braços atingindo o tsuki-dare do oponente.
É corrente pensar (erradamente) que, mesmo que o shinai do adversário se espraie generosamente sobre a nossa cabeça, ele não levou a melhor.
Esse gesto, normalmente designado mukae-zuki é, na maior parte das vezes, uma confissão acerca da incapacidade de defender a linha central.
Kôbô-ichi é um conceito que define ataque e defesa como fazendo parte de um todo inseparável. Kôbô-ichi é estar sempre mental e fisicamente preparado para um eventual contra-ataque do adversário e/ou para contra-atacar durante o ataque dele.
Mukae-zuki não faz parte desse quadro de acção. Ataque e defesa estão claramente separados.
Mukae-zuki não se enquadra no kendo ideal, ao contrário de tsuki-waza que exige, tal como men ou kote ou dô, um controle central antes da sua execução, aplicação de pressão sobre o kamae adversário e, finalmente, face a uma abertura, um ataque concreto, positivo e inegável.
Parece extremamente simples, mas tsuki é uma técnica que requer do kendoka mais competência, chamemos-lhe assim, que qualquer outra. As ancas e as pernas têm de estar numa posição sólida durante o impacto mas, ao mesmo tempo, prontas para voltar para trás para kamae (zanshin). Tsuki não se faz “a passar”. É preciso ir e voltar.
Afinal de contas, será por acaso que sanbonme é sempre a kata mais difícil de executar?

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