Falei de budo, mas o que é o budo? Contrariamente à ideia corrente, o budo não é a repetição directa da prática guerreira das artes marciais. É sim um conceito moderno que visa uma formação global do homem, intelectual e física, através das disciplinas tradicionais de combate; sendo “budo” o termo geral que abarca o conjunto dessas disciplinas.
No Japão, quando se discute o espírito da prática do kendo, do judo ou do karaté, utiliza-se frequentemente a palavra “enquanto”. Por exemplo, o kendo “enquanto” desporto ou o kendo “enquanto” budo.
O budo evoca imagens de seriedade, severidade, ritual, respeito pelos antepassados e pelo mestre, meditação silenciosa... nessas imagens, o budo transmite a impressão de uma prática conservadora e de uma atitude austera. O dojo evoca a imagem serena de um espaço sombrio e de pavimento liso que se opõe à do desporto, sob as luzes fortes de um ginásio ou do ar livre. Com efeito, quando se fala em desporto, a imagem é mais livre e, de certa forma, mais ensolarada.
No Japão, quando se fala de budo a propósito do karaté, trata-se tanto de uma prática dura, na qual não se evita o combate ao KO, como de uma prática austera que se afasta completamente da competição. Alguns associam-no a um treino ascético na montanha, sendo a confrontação à violência a caracteristica.
Noutras disciplinas, como no tiro com arco, insiste-se no aspecto espiritual e a harmonia na prática cerimonial é tal que a ideia de combate está excluída.
Existe portanto, no Japão, uma tendência para definir o budo pelo seu aspecto de austeridade e de duração. Mas é uma definição mais emocional que teórica e que não nos leva muito longe. No diz respeito à severidade, dureza e riscos envolvidos na prática, eles existem também no domínio desportivo, em disciplinas onde o risco é muito maior e levado ao extremo, como por exemplo, no alpinismo e nas corridas oceânicas de barcos à vela.
Então o que é o budo, afinal?
Próximo capítulo: A noção de “do”.
Antes que me esqueça, convém mencionar que todos estes artigos se encontram, na versão original francesa, no site de Kenji Tokitsu sensei, logo ali à direita e em cima, na zona dos links.
11.11.05
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