15.11.05

A NOÇÃO DE “DO”

(Vimos que) é portanto inadequada a definição do budo em função dos seus traços de austeridade e severidade, ou pela espiritualidade do ascetismo. Budo significa, literalmente, via marcial. É necessário reflectir sobre a prática técnica das artes marciais (bu) em relação à noção de via (do).
Hoje, no Japão, a modernidade é fortemente valorizada e algumas pessoas mais jovens apresentam uma reacção quase alérgica quando se lhes fala de do. Eu penso que a via não é nem arcaísmo nem misticismo. O do é constituido pelo tempo de vida, desde o nascimento até à morte. A via é feita de subidas e descidas. Todos percorrem esse caminho mas ele não se impõe à consciência e é fácil de se dispersar com o passar do tempo. A partir do momento que se fala de via, há uma direcção e um objectivo.
Quando, durante esse lapso de tempo que é uma vida, se associa à prática das artes marciais uma tensão no sentido do aperfeiçoamento pessoal, ou seja, do indivíduo na sua totalidade, é então que a ideia de budo nasce. A ideia de melhoramento pessoal está presente em todas as culturas. No entanto, o que isso significa para os japoneses parece-me ser muito diferente do que significa para os europeus. Mas, mascarada pela ideia de progresso, as diferenças não surgem à vista numa primeira abordagem. Se um ocidental pretende praticar budo a tempo inteiro, um dos problemas mais importantes parece-me ser a capacidade de pôr em prática a concepção de via (do).
É fácil compreender que a questão do budo não se põe nos mesmos termos para os japoneses e para os ocidentais. A compreensão mútua deve ultrapassar primeiro um certo número de problemas que vou tentar identificar.

Próximo artigo: A transmissão do budo pelos japoneses

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